
Ehud Olmert assediado por críticas com relação à sua administração da guerra contra Hezbollah e investigado pela sua intervenção em duvidosas manobras bancárias quando foi ministro de Economia de Israel, quis festejar pelo alto o 40º aniversário do “Dia de Jerusalém”, ou seja, da anexação arbitrária de Jerusalém leste, a zona árabe da cidade. Isto é chamado de “reunificação” na linguagem oficial, e o primeiro ministro israelense insistiu no domingo, dia 13, que ela deve ser a capital do país. Expressou sua confiança em que o mundo inteiro a reconheceria como tal e convidou os embaixadores estrangeiros –que trabalham em Tel Aviv– à cerimônia de celebração que ocorreu no dia seguinte na Knesset, o Parlamento israelense. Somente estiveram presentes os embaixadores da Geórgia, Nigéria, Cameron, Etiópia, Costa de Marfim, Congo e Honduras. Os embaixadores dos Estados Unidos, da União Europa e dos demais países com representação diplomática em Israel não compareceram (Ha’aretz, 15-5-07). A desconsideração foi clara.
Um diplomata alemão – a Alemanha exerce a presidência rotativa da União Européia – explicou em nome de seus 27 Estados membros: “não reconhecemos a anexação israelense de Jerusalém Leste. Acreditamos que o futuro de Jerusalém deve ser o resultado de negociações entre Israel e os palestinos” (The Independent, 14-5-07). É evidente que o discurso e os atos de Olmert manifestam a vontade de impor de fato a soberania israelense em toda Jerusalém. Seu gabinete aprovou o traslado de mais escritórios governamentais à cidade, como se a questão estivesse resolvida e não se tratasse de um tema pendente, sujeito a um eventual acordo pacífico com a Autoridade Palestina, para a qual Jerusalém leste deve ser a capital de seu futuro Estado: sua população e a história assim o querem.
Os governos de Tel Aviv sempre consideraram Jerusalém uma prioridade absoluta desde que Israel anexou a parte leste da cidade em 16 de maio de 1967. Confiscaram terras e destinaram grandes recursos humanos e financeiros para fortalecer a presença israelense e garantir a segurança de seus residentes. Os de Jerusalén ocidental, claro. Quem visita a zona árabe da cidade encontrará moradias arruinadas, pobreza e desemprego. “É a conseqüência de 40 anos de discriminação deliberada. Na prática, mais de 30 por cento da população de Jerusalém só é beneficiada, para serviços públicos, por 10 por cento do orçamento da cidade” (Ha’aretz, 16-5-07). Um editorial do jornal israelense proporciona outros dados significativos sobre estes jerosolimitanos de segunda.
Nenhuma criança que viva nos bairros novos para israelenses permanece em casa por falta de escolas. Nos bairros árabes vizinhos, 15.000 crianças não podem aprender a ler e escrever porque mais de 1300 salas necessárias não existem. “Jerusalém leste alberga cerca de 75,8 por cento das crianças pobres da cidade e 62 por cento das famílias vivem abaixo da linha da pobreza.” Assim é a Jerusalém “reunificada”, que Israel separou da Cisjordânia com um muro. O Muro de Berlim edificado pela URSS recebeu o nome de “Muro da vergonha”. O que constrói Tel Aviv fragmenta e encerra as comunidades palestinas, expropria de fato os territórios palestinos, onde foram instalados assentamentos ilegais de colonos e uma campanha internacional o qualifica de “Muro do Apartheid“. Para John Dugard, renomado jurista sul-africano e relator do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre a situação dos territórios palestinos ocupados, o regime que ali impera é mais complexo.
Dugard lembrou no seu informe anual que a ONU identificou o colonialismo, o apartheid e a ocupação estrangeira como inimigos dos direitos humanos e que “a ocupação israelense do lado Ocidental, Gaza e Jerusalém leste reúne elementos desses três regimes, o que torna os territórios palestinos ocupados em matéria de especial preocupação para a comunidade internacional” (www.unhchr.org, 23-2-07). Ressalta que a Corte Internacional de Justiça confirmou que Jerusalém leste e a parte Ocidental estão submetidas à ocupação israelense e agrega que “não é possível argumentar com seriedade, como tentou Israel, que deixou de ocupar Gaza desde agosto de 2005 quando retirou seus colonos e suas tropas dali”. Ressalta que inclusive antes da “Operação Chuvas de Verão” de 2006, em represália à captura de um efetivo israelense, Israel controlou o território por terra, mar e ar. Desde essa ação, acrescenta Dugard, “exerceu sua autoridade militar mediante incursões e bombardeios que claramente correspondem a uma ocupação”.
Uma pesquisa que o Centro de Campanhas contra o Racismo realizou em dezembro de 2006 mostra que boa parte da sociedade israelense acompanha as políticas discriminatórias do governo (www.jewishvirtuallibrery.org, 2007). Cerca de cinqüenta por cento opina que Israel deve alentar a imigração dos árabes. Cinqüenta por cento não aceitariam um trabalho em que seu chefe fosse um árabe. Cinqüenta por cento afirmaram que os israelenses judeus devem ter mais direitos econômicos que os israelenses árabes. Á pergunta de como reagia o entrevistado quando escutava falar árabe nas ruas de Israel, cinqüenta por cento responderam que sentiam temor e trinta por cento, ódio. Quarenta por cento dos israelenses judeus pensam que os israelenses árabes devem ser privados de seu direito ao voto, etc.
Na sexta-feira, dia 11, os membros do movimento israelense “Paz Já”, a ala pacifista mais importante do país, realizaram um comício no qual recordaram o “Dia de Jerusalém” de maneira muito diferente da oficial: exigiram o fim da ocupação dos territórios palestinos e se pronunciaram por uma Jerusalém em paz. Honrados são todos aqueles que lutam contra a corrente empenhados em uma causa justa.
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Tradução: Daniela Mateus