Sete perguntas sobre Israel

Pode-se igualar a política de Estado de Israel à do Estado nacional-socialista alemão?   Só parcialmente. Os bombardeios indiscriminados sobre as cidades e a população civil foram praticados...

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Pode-se igualar a política de Estado de Israel à do Estado nacional-socialista alemão?

 

Só parcialmente. Os bombardeios indiscriminados sobre as cidades e a população civil foram praticados também pelos aliados na Segunda Guerra Mundial, principalmente sobre a cidade de Dresde, e pelos Estados Unidos contra o Japão e o Vietnã. Embora Israel pratique sistematicamente a tortura, a destruição de moradias e a limitação de locomoção a civis em territórios ocupados, não recorreu até agora a estas práticas.

 

Existem antecedentes na história e tradição judaicas que possam ser aplicáveis no atual conflito?

 

A rebelião do gueto de Varsóvia, em 1943, poderia aproximar-se das ações de grupos palestinos contra o exército israelense: em ambos casos, se trata de populações confinadas em um espaço ocupado pelo inimigo, sob condições de aglomeração, miséria e limitação de locomoção. Por outro lado, o antecedente mais antigo de atentado suicida se encontra na história bíblica de Sansão, quem, em situação desesperada, derrubou sobre si e sobre quem o capturou os pilares do Templo.

 

Está em jogo no conflito árabe-israelense uma “ética judaico-cristã” que se contraponha a outros valores éticos ou culturais?

 

De nenhum modo. Em termos doutrinários, o cristianismo se desenvolveu em oposição à concepção ético-religiosa judaica e, em termos históricos, a perseguição criminal anti-judaica foi constante nos países cristãos e, desde fins do século XIX, se exacerbou em toda Europa até chegar a seu paroxismo no Holocausto; pelo contrário, a pacífica convivência entre muçulmanos e judeus tem sido uma tradição milenar nos países islâmicos.

 

Qual é então a perspectiva do apoio ativo de setores fundamentalistas cristãos, poderosos nos Estados Unidos, à política do Estado de Israel?

 

A tática de apoio a um Estado Judeu no Oriente Médio se inscreve em uma concepção milenar que em longo prazo envolve, explicitamente, o desaparecimento do judaísmo. Na provável eventualidade de que o experimento fracasse, previsivelmente os judeus ficariam mais uma vez deixados a sua própria sorte, que dependerá então da possibilidade de uma convivência com o povo que está sendo vitimizado por Israel.

 

A atual situação no Oriente Médio afeta a experiência pessoal dos judeus no mundo?

 

Sim. Toda política de Estado criminal implica um rompimento ético para os cidadãos que a sustentam ou a aceitam e todo judeu é, em virtude da denominada Lei do Retorno, potencialmente um cidadão de Israel. Dado que a ética não é um ornamento da personalidade, mas que está no núcleo constitutivo do psiquismo humano, é previsível que esta situação afete diferentemente, segundo a singularidade de cada sujeito, a experiência pessoal de cada judeu no mundo.

 

 

Pode um judeu na diáspora tomar uma perspectiva distinta da de um israelense perante a situação atual? Ele deve fazê-lo?

 

Na diáspora, o judeu conta com mais possibilidades para tomar uma perspectiva diferente daquele que, em Israel, se encontra submergido nas emoções coletivas próprias de um conflito bélico. A obrigação de atuar em função de uma perspectiva crítica é de ordem ética, ou seja, que o sujeito, admitindo ou não, deve responder por ela.

 

Houve quem de algum modo antecipasse, antes da criação do Estado de Israel, que se chegaria a uma situação como a atual?

 

Sim. Em 1942, em seu livro A questão judaica, o militante socialista Abraham Leon, nascido em 1920 no gueto de Varsóvia, antecipou esta situação. León foi asassinado pelos nazistas no campo de extermínio de Auschwitz.
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Tradução :  Daniela Mateus

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