Projetando Jerusalém – Dr. Edward W. Said

Edward W Said é um proeminente professor universitário palestino nascido em Jerusalém, atuante, ensina Inglês e Litaratura Comparada na Universidade de Colômbia, Nova Iorque. O ensaio acima compreende excertos...

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Edward W Said é um proeminente professor universitário palestino nascido em Jerusalém, atuante, ensina Inglês e Litaratura Comparada na Universidade de Colômbia, Nova Iorque. O ensaio acima compreende excertos de uma conferência temática que ele fez sobre Jerusalém em Londres, em 15-16 de junho de 1995.
 
Em Maio de 1991, fui convidado pela Universidade de Cidade do Cabo para proferir a palestra do AW Davies Academic Freedom Lecture o qual, como o seu títulos sugere, reivindicava liberdade acadêmica num tempo    em que esse tipo de liberdade era escasso. O Apartheid ainda tinha acabado, embora poucos meses antes Nelson Mandela tivesse ganho a liberdade depois de vinte e sete anos   de prisão, seria possível ter um encontro com Mandela dali a pouco, ele estava, nessa época, no centro dos esforços nacionais e internacionais para levar a África do Sul do Apartheid para uma nação não racista, depois de vê-lo, passei cerca de uma hora com seu colega Walter Sisula o qual, a exemplo de Mandela, tinha gasto boa arte de sua vida num cárcere, e que recentemente havia sido libertado, discutimos a história da luta do Congresso Nacional Africano , agora, pela primeira vez em sua história, em ascensão, foi, para mim, uma conversa profundamente esclarecedora com óbvios pontos de divergência e comparação com a luta dos palestinos, então, como agora, muito não em ascendência.
O calor e a cordialidade com que fui recebido por Sisulu foi um pouquinho perturbada, entretanto, por um exemplar do livro de Teddy Kollek sobre ele e Jerusalém, que divisei numa mesa, era o único livro à vista assim eu não me enganei , acho, ao concluir que Sisulu se preparara com ele para me receber, depois da visita, mencionei a uma das assessoras de Sisulu o desconforto que senti por causa de Kollek que, para a maioria dos palestinos, é um símbolo da política d anexação de Israel, mais tarde ela me disse que a intenção de Sisulu era me deixar mais à vontade com a exibição do livro de Kollek: Kollek, teria dito Sisulu, era um representante do liberalismo e da cooperaçaõ árabe-israelense e ele queria também mostra seu apoio a esse processo.
Ora, não tornei a ver Sisula ou tra vez e nunca tive a chance de informá-lo por exemplo, que somente uns poucos depois de Isral ter conquistado a Cidade Velha no começo de Junho de 1967, Kollek, juntamente com Moshe dayan, expulsou quase mil palestinos de seus lares ancestrias no Haret al-Maghariba, invadiu seus lares e construiu a praça monumental que agora se estende antes do muro Ocidental, uma área que agora se tornou Arab-rein, puramente judia, enquanto estive na África do Sul ouvi sobre táticas similares usadas pelos oficiais afrikaner no centro da Cidade de Cabo, qual antes obrigava grandes números de povos negros e coloridos que foram expulsos de suas áreas residências, e que tiveram seus bairos destruídos, a fim de que o núcleo da cidade pudesse ficar totalmente branco.
Como foi então que, em vez de se ater a esse episódio extremamente represenativo do passado de Kollek, Sisulu preferiu ficar com sua imagem divulgada internacionalmente por uma cuidadosa camapanha de marketing, promovendo-o como um indivíduo humano, liberal e pacífico?
Esta imagim de alguém dotado de saber prático e de senso de improvisação      que encantou o mundo fez de Kollec o símbolo máximo de Jerusalém – da Jerusalém dominada pelos judeus, é bem verdade, mas de algum modo do prefeito da gente, e, como tal, honrado em toda a parte.
Não tenho que insistir sobre o que há de pungente e irônico nesse episódio quando se considera a situação real de Jerusalém e o futuro do processo de paz , em 1991, Jerusalém já fora anexada por Isael há 24 anos, com sua topogafia, seu ambiente e sua aura histõrica alterados maciçamente, atarves da força e compensados demograficamente, mas o que transpareceu para o mundo exterior dessa desagradável história foi um luminoso símbolo de empreemdimento humanitário e pioneiro , a primeira coisaa ser notada, depois, é não exatamente o poder de Israel para fazer o que fez face à resistência inicial e à reprovação internacional a final de contas, havia um bom número de resoluções das Nações Unidas impugnando as medidas tomadas unilateralmente por Israel em Jerusalém – mas também sua habilidade de transmitir para o mundo que aquilo que fazia de modo tão peremptório corrigia as objeções tiviais que teriam intimidado outros países   , Israel foi capaz, assim de projeta realidade vivda, transformando-a de uma cidade multicultural e multirreligiosa em uma cidade “eernamente” unificada, mais principalemte judia, sob exclusiva soberania israelense, só agindo desta maneira, inicialmente em projeções, pôde vir a pôr em prática as mudanças concretas no cursodos últimos oito ou nove anos, isto é, empreender uma ampla mettamofose arquitetônica, demográfica e política que corresponderia então às imagines e projeções.
A Perda da Cidade de Jerusalém 1948 e 1967
O processo de primeiro projetar para depois construir e deslocar, começou em 1948 na então chamada Jerusalém ocidental, a parte da cidade na qual nasci e onde, por um certo período, cresci, é crucial relembrar aqui que, como Rashid Khalidi colocou em sua conferência, em 1990, no St. Anthony College, “ muito de que hoje passa comumento como sendo a “Jerusalém Ocidental israelense” de fato consistia de localidades árabes anteriores à g uerra   da primavera de 1948, quando 30.000 de seus habitando foram expulsos ou se evadiram de seus bairros, como Baqa Alta e Baixa, Qatamon e Talbyia, vários meses antes que cerca de 2000 judeus fossem postos à força para fora do Bairro Judeu da Cidade Velha”.
Antes de retornar para uma visita em 1992, a última vez que estive em Talbyia onde a casa de meus pais ainda existe, foi em 1047, há 45 anos, meu primo mais velho Yousouf ficou na casa até o começo de 1948, mas com uma mulher jovem e grávida, ele logo concluiu que seria difícil vivir em Talbyia, indo e vindo, pois   Talbyia era distante de seu trabalho localizado perto dos muros da Cidade Velha, assim ele se mudou para uma casa alugada em Baqa, onde permaneceu até Abril, depois , a área se tornou inabitável, o pânico causado pelo massacre de Deir Yassin nos arredores de Jerusalém em 9 de Abril foi ampliado pela queda de Haifa e o êxodo palestino da cidade, mais tarde, no mesmo mês, desde o começo da primavera patrulhas da Haganah munidos de alto-falantes fazia rondas periódicas em Jerusalem ocidental anunciando que toda a área estava prestes a cair nas mãos das forças judias e que seus residentes deviam partir, tiros e explosões de bombas noturnos aterrorizavam a população palestina, na sua grande maioria desarmada e desorganizada, o que tornou as coisas ainda piores foi que os lideres palestinos haviam partido um pouco antes de Abril, não havia qualquer proteção e o governo mandatado, ainda nominalmente responsável pela lei e pela ordem, pareceu também ter abandonado os palestinos aos seus oponentes sionistas, bem armados e organizados, quando meu primo fugiu para lugar seguro com sua mulher, no fim do mês, pediu a um parente solteiro para ficar na casa de Baqa, nesse ínterim, a casa foi invadida pela Hagana e por terem encontrado a arma de caça de meu primo, primeiro bateram depois aprisionaram o pobre rapaz por seis meses, e como era de supor, eles simplesmente se apossaram da propriedade, como aconteceu com os demais propriedades palestinas.
Nehuma das pessoas dessa história concrea de perda consta nos registros oficiais da guerra de independência de Israel, como se diz um pouco friamente, eo mundo ouviu pouco das pessoas, como o meu primo, que nos anos posteriores   a 1948 estavam observidas demais em sua luta diária pela sobrevivência num meio novo e incomumente hostil, Jerusalém, Israel, rapidamente deram motivos para grande parte de aprovação internacional pós-1948, a final, se tratava da mais famosa cidade de um pais que era celebrado como um dos grandes realizações do pós-guerra, o país que fez deserto florescer, coltivou os ermos, redesenhou o ambiente criou a democracia, coube a uma geralçao tardia de israelenses, os chamados revisionistas, como Benny Morris, Tom Segev e outros, revelar parte dos custos da criação de Israel, devidos pricipalmente aos essencialmente silenciosos e ignorados palestinos, ademais, sõ no ano passado puderam ser examinados alguns documentos do gabinete israelense relativos a 1948, eles também revelam uma história de políticas programáticas raçadas para remover os palestinos, oficialmente apagar seus traços, confiná-los a uma não-existência legal e institucional.
Em 1967 foi a vez de Jerusalém oriental, dentro da conquista de Junho, a barreira entre as Jerusaléns ocidental e oriental foram eliminadas e Jerusalme oriental e suas vilas circunvizinhas foram engolfadas pelas novas fronteiras municipais da cidade, estendidas em 28 milhas quadradas, Kollek tomou conta de conselho citadino a bancada árabe foi sumariamente dissolvida e com o passar dos anos as duas metades da cidade foram fundidas em uma só, embora a população palestina tenha dobrado de 70.000 , em 1967, para 150 mil no começo de 1990, ela só teve permissão para construir em 10 % da região, expropriações de terra dentro e ao redor de Jerusalém foram maciças e sistemátias, mas a construção de habitaçõesse distenou aos judeus, não aos palestinos, o círculo de amciços, e maciçamente feios, assentamentos judeus que cerca   a cidade, domina a paisagem, alardeia a idéia provocativa de que Jerusalém é, tem de ser, sempre será uma cidade judia, apesar da existência de uma vasta, embora olhida e sitiada população palestina, embora Jerusalém oriental tenha sido anexada, os residentes palestinos têm a designação legal de “residentes alienígenas”.
É um sinal da impotênciia dos palestinose, deve ser dito, de incompetência coletiva, que at[e hoje a história da perda de Jerusalém, tanto em 1948 quanto em 1967, não tenho sido contada por eles,mas – tan to quanto o que foi contado – parcialmente reconstruída, seja por israelenses, simpáticos ou não, seja pَ estrangeiros, em outras palavras, não somente não há uma narativa palestina sobre 1948e depois disoo que possa ao menos desafiar a narrativa dominante israelense, mas também não há um projeto palestino para Jerusalém, haja vista sua perda inapelavelmente definitiva em 1948, e de novo em 1967, o efeito dessa negligência histórica e política sumamente extraordinلria foi o de nos privar de Jerusalém bem antes do fato.
Os Planos de Israel
Nessa ínterim, a febre de edificações israelenses sobre as colinas levemente inclinadas de Jerusalém, seus verdes vales de antes, continua enquanto falamos. Hotéis de luxo e edifícios de escritórios bem junto aos antigos muros apagam todo vestígio árabe ou muçulmano, atendo-se aos planos do lamentável prefeito Ehud Olmert, do Likud, que chega a dar saudades de Kollek, Jarusalém em sua atual expansão responde por cerca de 25% da Cisjordânia, estradas , casas de apartamentos, malls e que tais pipocam em toda parte, tanto que a divisória de cinco quilòmetros entre Belém e  Jerusalém está sendo apagada, por outro lado, o fechamento de Jerusalém aos habitantes de Gaza e do resto da Cisjordânia criou dificuldades porque, como Israel bem sabe, Jerusalém oriental é o cerne da Cisjordânia, qualquer desيgnio com vistas a fortificar, isolar e incorporá-lo ao esquema de “separação” ora perseguido   pelo governo trabalhista significa, de fato, amputálo de suas conexões naturais com o resto dos territórios que os enfraqueceria de forma permanente.
Mas isto, lamento dize-lo , é exatamente o plano de Israel que, com efeito, é um assalto não somente sobre a geografia da cidade, mas também sobre a sua cultura, a sua história e, claro, as suas religiões, pois o que quer que isso possa ainda ser, a Jerusalém histórica e, de fato, a Palestina são um amálgama de uma peça só de culturas e religiões engajadas como membros da mesma famيlia sobre o mesmo pedaço de terra na qual todos se entrelaçaram com todos, embora com todo esse poder, a visão sionista é, em minha opinião, tão socialmente rejeicionista se apossou da terra, da sua realidade passada e viva de culturas e tradições entrelaçadas com a intenção de separá –las, extirpá-las e unilateralmente se apossar de um lugar que ela alega ser unicamente seu, não negarei o que muitos catedráticos e especialistas em religião têm dito, que Jerusalém ocupa um lugar especial na religião e tradição judaicas talves um lugar mais especial do o que qualquer outro grupo tomado individualmente, certamente houve uma presença judia pelos últios 3.000 anos e por um curto período antes e pouco tempo depois do começo da era cristã, houve um reino judeu com sua capital Jerusalém, mas a presença e o governo muçulmanos contínuos têm sido mais extensos , e houve igualmente uma presença cristã muito densa, co m efeito, durante seus registros históricos de cerca de 10.000 anos, Jerusalém teve uma série quase inimaginável de conquistadores , tradições coexistentes mantiveram suas presenças, vezes harmoniosamente, vezes precariamente, sobrepor-se a tudo isso afirmando que só os Judeus têm um direito à sobreania exclusiva sobre a cidade è caçoar da história, par a Israel – afinal de contas, um esado moderno no tardio século XX – reinvidicar Jerusalém como sua capital eterna e indivisível, com a exclusão da população palestina, não faz justiça nemà nobreza de aura e grandeza sem paralelo da cidade, nem a sua história inequivocamente de uma rica textura de significado   religioso, cultural e memo político.
Mas uma coisa é examinar os modelos do passado, e outro totalmente diferente confrontar as ásperas interjeições do presente, isto é, aquelas que Israel adotou em Jerusalém desde 1967, o plano de Israel para Jerusalém não é outra coisa senão despojar os palestinos e transformá-los numa minoria numérico, ao mesmo tempo em que implanta uma forte presença judia que atrofiará ou marginalizará todas as demais das inumeráveis realidades da cidade, Israel é apoiado e incentivado neste palno pelo estampido de membros do congresso dos EUA, que deflagraram, como parte da exaltação dirigida que toma conta dos políticos quando se avizinha a campanha eleitoral, um movimento para transferir a embaixada dos EUA de Tel –Aviv para Jerusalém, rompendo assim com uma constante na política   externa dos EUA desde 1948, é verdade que uma combinação de pressões internas e internacionais sustou as expropriações mais recentes de Israel em Jerusalém, mas estas medidas foram somente “suspensas”, dependente de futuras investigações ministeriais deixando Israel com a opção de se apossar de mais terras em diferentes circunstâncias numa data posterior, com efeito, o que é exatamente o fato de que, com os Estados Unidos usando seu poder de veto no Conselho de Segurança para proteger Israel, a comunidade internacional pareça impotente para dizer ou fazer qualquer coisa, mas que os árabes e os Muçulmanos como um todo, mais especialmente os palestinos não tenham mobilizado seus consideráveis recursos.
Devemos perguntar porque na Declaração de Princípios (DOP) a própria Jerusalém, já anexada ilegalmente e agradida de todas as formas, foi separada da Cisjordânia e de Gaza, e deixada ou melhor, concedida a Israel desde o começo das negociações? A resposa deve estar em dois fatos intimamente relacionados, que Israel, sendo muito mais poderosa e tendo total apoio dos EUA, concedeu-se unilateralmente o direito de fazer o que quisesse em Jerusalém e alhuresç e que os palestinos fizeram estas e muitas outras concessُes porque estavam convencidos de que tinham alternativas.
O que pode ser feito?
Então, se Jerusalém foi tomada dos palestinos por Israel, despojando-os dela quais são os princípios e valores que precisam ser defendidos? Quais são os meios pelos quais isso pode ser reparado no futuro? Jerusalém, a despeito de toda a sua decantada santidade e importância, não é diferente dos outros territórios ocupados, em princípio: isto está de acordo com o direito internacional, não pode sozinha dispor, construir ou explorar a favor da exclusão dos palestinos e de outros, desde o começo, pois, precisamos de uma clara declaração de propósito para nos quiar, e se isso de fato significa que repensemos e refaçamos Oslo, então que assim seja, Israel vem reinterpretando, ou melhor, violando, Oslo todo o tempo.
   Mas não basta apenas falar sobre Jerusalém oriental, mecanicamente, como árabe, e , de minha parte, não creio que seja de nosso interesse como povo criar uma nova divisão numa cidade que continua etnicamente separada, não obstante estar unida, do ponto de vista da municipalidade, da forma como o fez Israelç acho que seria muito melhor dar um exemplo e oferecer uma alternativa a tais métodos como os de Israel, projeando ua imagem de Jerusalém cmo um todo, o que é mais condizente com sua complexa mistura de religiões, histórias e culturas, do que ade uma Jerusalém como algo que gostaríamos de fatiar em duas metades , é claro que Jerusalém oriental é parte da Cisjordânia ocupada, e temos de insistir sobre este ponto sempre mais, desta forma, isto precisa ser religado a toda a questمo da libertação dos palestinos do jugo da ocupação israelense, mas mais do que isso,Jerusalém o único lugar o qual, pela razão dada atrás, pode ser reralmente o sítio de coexistência e convivência entre nós e os Israelenses, por esta razão, devemos insistir em falar de Jerusalém como uma cidade com soberania compartilhada e com uma visão conjunta e cooperativa, e de fato já estamos agindo assim, baseados no princípio de nossa autodeterminação e independência como povo e sociedade.
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