
O 15 de maio está gravado na memória coletiva dos palestinos como o princípio do fim, o dia em que se declarou a existência do Estado de Israel e começou o exílio forçado e a perda de seus lares e terras, episódio que marca sua identidade de povo desempossado.
O dia é lembrado em cada campo de refugiados, aldeia e cidade palestina como um dia de dor e lembrança com atos culturais, populares e cerimônias oficiais.
Este ano o bairro de Sheikh Yarraj em Jerusalém chamou atenção. Cerca de 200 palestinos liderados por deputados árabes-israelenses levantaram bandeiras e cartazes contra a “judaização de Jerusalém – a nova Nakba”.
Como a data caiu num sábado, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) transferiu os atos oficiais principais para a segunda-feira em Ramala onde deve ocorrer uma marcha partindo do mausoléu onde está enterrado o líder palestino Yasser Arafat na “Muqata” ou sede do governo de Ramala, até a praça central de Al-Manar.
Hoje a “tragédia” foi lembrada com o ressoar das sirenes ao meio-dia em Ramala, para convidar os palestinos a um momento de recolhimento a fim de honrar os milhões de palestinos que tiveram que abandonar seus lares e suas terras na primeira guerra árabe-israelense (1948-49) e na dos Seis Dias (1967).
Segundo dados da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) os refugiados e seus descendentes chegam hoje em dia a sete milhões, a maior população de refugiados do mundo.
Eles não puderam retornar a seus lares nos quais hoje é o estado de Israel e o território palestino ocupado devido ao Estado judeum que não o permite.
Pelas ruas de Ramala também é possível observar hoje palestinos vestidos de negro em sinal de luto, enquanto os meios de comunicação como a televisão dedicam programas inteiros a notícias sobre a “Nakba”.
Na Faixa de Gaza a fatídica data também foi lembrada através de comícios convocados pelo movimento muçulmano Hamas, que controla o território, e outras facções palestinas.
Na localidade de Beit Hanoun, no norte de Gaza, tendas tradicionais foram montadas e as antigas ferramentas de agricultura e cozinha colocadas para fora em meio a cântico e bailes nacionais como o “dabka”.
O comitê encarregado de comemorar a data pediu o cumprimento da resolução 194 das Nações Unidas que garante o direito ao retorno do povo palestino a sua terra.
“Uma solução baseada na Resolução 194 da ONU para os refugiados palestinos é um dever”, afirma o chefe negociador palestino Saeb Erekat em comunicado em que acusa, além disso, “Israel de rejeitar os direitos básicos dos refugiados”.
A “Nakba” também foi lembrada no território israelense com concentrações organizadas no norte do país, principalmente na Galiléia, onde vive o grosso dos palestinos com cidadania israelense, 20% da população.
Há 62 anos ao menos 726 mil palestinos foram expulsos de suas cidades e povoados além de terem sido testemunhas do assassinato de centenas de civis e da destruição de inúmeras aldeias.
Mais de 1,3 milhão de refugiados palestinos vivem hoje em 58 campos de refugiados administrados pela Agência da ONU para a ajuda aos Refugiados Palestinos (UNRWA) na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém, Jordânia, Síria e Líbano, assim como nos 12 campos de refugiados não reconhecidos (cinco na Cisjordânia, três na Jordânia e quatro na Síria).
Israel defende que, em sua maioria, os palestinos abandonaram voluntariamente seus lares convencidos pelos dirigentes e os países árabes, que previam uma vitória rápida.
E insiste em que os palestinos pagaram as consequências de terem rejeitado o plano de partilha aprovado em 1947 pela ONU, que estabelecia a criação de um Estado judeu e outro árabe na Palestina.