
É incrível poder assistir a uma aula de História como essa no Youtube. Este vídeo de 1 hora e 6 minutos de duração, legendado em português, traz uma entrevista com Ilan Pappé, historiador israelense que ajudou a desconstruir os mitos em torno da criação do Estado judeu na Palestina. Aqui ele conta as principais revelações que obteve – junto com os chamados ‘novos historiadores’, como Benny Morris – ao rever, no início da década de 80, a historiografia israelense oficial. São três os principais pontos aprofundados nesse vídeo:
1) A desconstrução do mito de que Israel estava a beira de um novo holocausto em 1948
“E de fato não estava (…) Mas era muito útil para o governo israelense, e mais tarde para o sistema cultural israelense, produzir este mito de que Israel estava à beira da destruição”, afirma Pappé no vídeo. Sua pesquisa mostra que havia equilíbrio na correlação de forças – na verdade, vantagem militar e logística dos israelenses – além de acordo com o Rei da Jordânia.
2) Na historiografia oficial israelense, construiu-se o mito de que as lideranças árabes conclamaram os palestinos a sair do território. A pesquisa de Ilan Pappé confirmou que nunca houve tal chamado
“Em 10 de março de 1948, o comando militar e político judaico decidiu limpar a Palestina”, diz no vídeo. Entre 750 mil e 800 mil palestinos foram expulsos – dos cerca de 900 mil residentes ali. “O que significa que a vasta maioria dos palestinos que deveriam fazer parte do Estado judeu foram expulsos por Israel”. A explicação é a questão demográfica: com minoria judaica (cerca de 660 mil), Israel não seria o estado judeu planejado pelos sionistas.
3) Havia chances para um acordo de paz em 1948. O mito contado por Israel é que os palestinos sempre o rechaçaram.
“Na verdade, Israel estava muito feliz com o resultado da guerra”, conta o historiador. Os árabes estavam dispostos a fazer acordos nos termos das resoluções propostas pela ONU. O presidente dos EUA à época, Truman, chegou a pressionar os sionistas a aceitarem a posição, razoável: dois estados soberanos e o retorno de todos os palestinos refugiados que desejassem voltar. “É preciso lembrar que em 1948 muitas casas ainda estavam lá”, ressalta Pappe.