Origens do conflito entre Israel e a Palestina Parte I

AS ORIGENS DO CONFLITO ENTRE ISRAEL E A PALESTINA .. The Origin of the Palestine-Israel Conflict, colhido junto da organização de judeus Norte Americanos “If Americans Knew” Publicado...

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AS ORIGENS DO CONFLITO ENTRE ISRAEL E A PALESTINA

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The Origin of the Palestine-Israel Conflict,
colhido junto da organização de judeus Norte Americanos
Publicado pela organização :

Continuando a perda de vidas no Médio Oriente, achamos que a procura de uma solução justa tem de passar pela compreensão das origens do conflito. Dir-nos-á a sabedoria convencional, embora ambos os lados cometam erros, que os Palestinos são “terroristas” irracionais, a cujo ponto de vista não vale a pena dar ouvidos.
No entanto, a nossa posição é a de que os Palestinos têm uma razão de queixa real: aquela que foi a sua pátria por mais de mil anos foi-lhes arrancada contra a sua vontade, predominantemente pela força, durante a criação do Estado de Israel. E todos os crimes subsequentes – cometidos por ambos os lados – derivaram inevitavelmente dessa injustiça inicial.

Este trabalho traça o perfil da história da Palestina para demonstrar como teve lugar este processo e qual seria o tipo de solução adequada para este problema moral.
Se o leitor se preocupa de facto com os povos do Médio Oriente, sejam árabes ou judeus, deve a si mesmo a leitura deste relato, que é uma visão do outro lado dos acontecimentos históricos.

# posted by XYZ @ 1.9.06

Introdução

A posição sionista habitual é de que os judeus apareceram na Palestina nos fins do sec. XIX, reclamando a posse da sua pátria ancestral.
Os Judeus compraram terra e começaram a construir a comunidade Judia naquele local. Enfrentaram uma oposição cada vez mais violenta dos árabes palestinos, que teria derivado dum anti-semitismo inato da parte destes.
Os sionistas viram-se forçados a defender-se e, duma maneira geral, é essa a situação até aos dias de hoje.

O problema desta visão das coisas é de que, pura e simplesmente, não corresponde à verdade, tal como iremos documentar mais adiante.

O que aconteceu de facto é que o movimento sionista, desde o início, teve o intuito de desapossar totalmente os árabes originários, de modo a garantir que Israel pudesse ser um estado totalmente judeu, ou tão próximo disso quanto possível.
A terra adquirida pelo Fundo Nacional Judaico foi registada em nome do povo judaico com a disposição de que jamais poderia ser vendida ou de qualquer forma cedida a árabes (situação que é mantida até ao presente). 

A comunidade árabe, à medida que se foi apercebendo das intenções judaicas, cada vez mais se opôs ao aumento da imigração de judeus e à compra de terras por parte destes, dado que isso colocava um perigo real e iminente à própria existência da sociedade árabe na Palestina. Devido a esta oposição, nunca teria sido possível levar por diante o projecto sionista como um todo, sem o apoio militar britânico.
A vasta maoiria da população da Palestina tinha sido de origem árabe, não obstante, desde o sec VII (isto é, durante mais de 1.200 anos).
Em resumo, o sionismo baseou-se numa concepção errada do mundo, colonialista no sentido em que não considerava os direitos da população pré-existente.

A oposição árabe ao sionismo não se baseou em nenhuma forma de anti-semitismo, mas essencialmente no receio totalmente razoável de usurpação do seu próprio território.
Devemos esclarecer, além do mais, na nossa qualidade de judeus que as posições que aqui defendemos representam UMA CRÍTICA AO SIONISMO e de modo nenhum UMA POSIÇÃO ANTI-SEMITA.

Não cremos que os judeus tenham actuado pior do que qualquer outro grupo nas mesmas circunstâncias.
Os SIONISTAS (que eram uma minoria especial de judeus até depois da 2ª Guerra Mundial) tinham a compreensível aspiração de estabelecer um local onde os judeus pudessem ser donos do seu próprio destino, dada a negra história das perseguições anti-semitas.
Especialmente depois do perigo que o fim dos anos trinta, e seguintes, constituiu para os judeus residentes na Europa, as diligências empreendidas pelos sionistas foram ditadas por autêntico desespero.

# posted by XYZ @ 1.9.06

ANTIGUIDADE

Antes da chegada dos Hebreus , cerca de 1800 AC, a terra de Canaan era ocupada pelos canaanitas.

“…Entre os anos 3.000 e 1.100 AC a civilização canaanita ocupou aquilo que é hoje Israel, a Cisjordânia, o Líbano e a maior parte da Siria e da Jordânia.
Aqueles que permaneceram nas colinas de Jerusalem (depois dos romanos terem expulsado os judeus no 2º século AC ) eram uma mescla de povos: agricultores e vinhateiros, pagãos e convertidos ao Cristianismo, descendentes de árabes, persas, samaritanos, gregos e velhas tribus canaanitas”.
In: “Their Promised Land”, Marcia Kunstel e Joseph Albright. 

Ascendência ancestral dos actuais “palestinos”

“…todos estes povos diversos vindos para a terra de Canaan eram acrescentos, enxertos da árvore mãe… e essa era a árvore canaanita. Os árabes invasores do sec. VII fizeram dos nativos muçulmanos convertidos, e com eles foram casando, com o resultado de que hoje se encontram de tal modo arabizados que é impossível dizer onde acabam os antigos canaanitas e começam os mais recentes árabes”.
In: “Árabes e Judeus na Antiga Terra de Canaan”, Illene Beatty. 

Os reinados judaicos foram apenas um de muitos períodos da antiga Palestina

Os extensos reinados de David e Salomão, nos quais os sionistas basearam as suas pretensões territoriais, resistiram apenas 73 anos… tendo-se desagregado logo depois…
(mesmo) se considerarmos de independência todo o período de vida dos antigos reinados judaicos, desde a conquista de Canaan por David em 1.000 AC até à expulsão de Judá em 585 AC, conclui-se que foi apenas de 414 anos o predomínio dos judeus…”;
In: “Árabes e Judeus na Antiga Terra de Canaan”, Illene Beatty. 

Ainda a respeito da civilização canaanita recentes escavações arqueológicas forneceram provas de que Jerusalém já era uma grande cidade fortificada em 1.800 AC.
Os achados revelam que a existência prévia de um elaborado sistema de canalização de águas, até ao presente atribuído aos conquistadores israelitas, era anterior a eles cerca de oito séculos e era ainda mais elaborado do que se supunha.
O Dr. Ronny Reich que dirigiu as escavações, bem como Eli Shuicrun, disse que a totalidade do sistema tinha tido a concepção global dos canaanitas do período intermédio da Idade do Bronze, cerca de 1.800 AC.”
In: “The Jewish Bulletin”, 31 de Julho de 1998. 

Por quanto tempo foi a Palestina território árabe?

“…A Palestina tornou-se um território predominantemente árabe e islâmico por alturas do fim do século sétimo.
Quase imediatamente depois as suas fronteiras e as suas características – incluindo o seu nome em árabe “Filistina” – tornaram-se conhecidos de todo mundo islâmico, tanto devido à sua fertilidade e beleza quanto ao seu significado religioso.
Em 1516 a Palestina tornou-se uma província do Império Otomano, mas isso não diminuiu em nada a fertilidade das suas terras, ou a condição árabe ou islâmica dos seus habitantes, sessenta por cento dos quais se dedicava à agricultura, encontrando-se no geral divididos entre habitantes de localidades e pequenos grupos nómadas.
Todos porém se consideravam pertencer à Palestina, muito embora fizessem parte integrante da grande nação Árabe.
Apesar da chegada regular à Palestina de colonos judeus depois de 1882, é importante notar-se que nunca tinha havido ali, até poucas semanas antes da constituição de Israel na primavera de 1948, nada a não ser uma esmagadora maioria de árabes.
Por exemplo, a população judaica em 1931 era de 174.606 num total de 1.033.314…”
In: “The Question of Palestina”, Edward Said. 

Como funcionava na Palestina a propriedade tradicional da terra, e quando é que se transformou

“…O Código Otomano da Terra” de 1858 requeria o registo das propriedades rústicas em nome individual do seu proprietário, o que maioritariamente nunca tinha sido feito antes, sendo vigentes as normas tradicionais de posse da terra, na área das colinas da Palestina (ou “masha’as”) ou em versão comunitária.
A nova lei implicava que, pela primeira vez, um camponês poderia ser privado não da titularidade da sua terra, de que aliás não havia disfrutado antes, mas sim do direito de nela habitar, cultivar e transmitir aos seus herdeiros, coisa inalienável até então.
De acordo com a Lei de 1858 os direitos comunitários ao uso da terra foram frequentemente ignorados. Em vez disso, os membros das classes privilegiadas, experimentados na utilização das leis em proveito próprio, registaram em seu nome largas porções de terreno.
Os “fellahin” (camponeses) considerando de modo natural que certas terras eram suas, vinham a descobrir que tinham deixado de ser os seus legítimos proprietários apenas no instante em que elas eram vendidas a colonos judeus por proprietários considerados “absentistas”.
A aquisição das terras em causa não ficava por aí: os seus cultivadores árabes eram desapossados e substituídos por estrangeiros abertamente orientados de acordo com objectivos políticos para a Palestina.”
In: “Blaming the Victims” (“Culpando as Vítimas”) Rashid Khalidi, ed. Said and Hitchens. 

A oposição dos árabes à chegada dos sionistas era baseada em sentimentos anti-semitas ou na sensação de perigo real para a sua comunidade?

“O objectivo do Fundo Nacional Judaico era o de “redimir a terra da Palestina e a sua posse inalienável pelo povo judaico”.
Logo a partir de 1891 o líder sionista Ahad Há’am escreveu que os árabes “entenderam muito bem quais eram os nossos propósitos “;
por seu turno Theodor Herzl, o fundador do sionismo declarou que “…procuraremos volatilizar a população (árabe) sem vintém para lá da fronteira, procurando dar-lhe que fazer em países de passagem, negando-lhes emprego na nossa própria terra…”;
“…tanto processo de expropriação ou remoção dos pobres deve ser empreendido de forma discreta e circunspecta”;
Em variadas localidades do Norte da Palestina os agricultores Árabes negaram retirar-se de terras compradas por colonos a proprietários considerados “absentistas” , e as autoridades turco-otomanas, a pedido do Fundo Nacional Judaico expulsou-os!…
Os próprios judeus indígenas da Palestina reagiram negativamente ao sionismo. Não compreenderam a necessidade de um estado judeu na Palestina e não quiseram deteriorar as relações com os árabes;
In: “Palestine and Israel: A Challenge to Justice” de John Quigley.

Anti-semitismo inerente? Continuação…

“Antes do sec. XX , a maior parte dos judeus da Palestina pertencia ao velho Yushuv, ou comunidade que se tinha estabelecido mais por razões religiosas do que por motivos políticos. Não havia praticamente conflito nenhum entre eles e a população árabe. As tensões começaram a surgir quanto chegaram os primeiros colonizadores sionistas em 1880… quando efectuaram as compras aos tais considerados “proprietários absentistas” o que conduzia à expropriação dos que as haviam trabalhado…”
In: “The Arab-Israeli Dispute” de Don Peretz. 

“…(durante a Idade Média ) o Norte de África e o Médio Oriente árabe tinha-se tornado um lugar de refúgio e porto seguro para os judeus expulsos de Espanha e de outros sítios… Na Terra Santa… conviveram em (relativa) harmonia, uma harmonia apenas comprometida no momento em que os sionistas começaram a reinvindicar a “direito legítimo” à exclusão dos residentes árabes e cristãos”.
In: “Bitter Harvest” de Sami Hadawi. 

Atitude dos judeus perante os árabes assim que chegaram à Palestina

“… os judeus que eram geralmente servos nos países da “Diáspora” (ou seja, todos aqueles onde haviam residido na qualidade de povo errante), acharam-se subitamente em liberdade na Palestina, resultando neles tal mudança numa inclinação para o despotismo. Tratam os árabes de forma hostil, privam-nos dos seus direitos, ofendem a sua causa, gabando-se mesmo de tais atitudes, sem que ninguém entre eles se oponha a esta lamentável e perigosa conduta “
(citação feita no livro “Bitter Harvest”, de Sami Hadawi de palavras proferidas pelo escritor sionista Ahad Há’am) 

Propostas de colaboração entre árabes e judeus

“…um artigo de Yitzhak Epstein, publicado no “Hashiloha” em 1907 apelava para uma nova política do sionismo relativamente aos árabes após 30 anos de actividades de colonização judadaico-sionista na Palestina…”, tal como Ahad-Há’am em 1891, Epsteim afirma que uma terra devoluta não presta, pelo que a implantação judaica significava espoliação dos árabes.
A solução de Epstein para o problema, de modo a evitar um novo “problema judaico”, era a criação de um programa bi-nacional e não exclusivista de colonização e desenvolvimento. A compra de terras não deveria implicar a espoliação dos pequenos agricultores associados. O que envolvia a criação conjunta de uma comunidade agrícola na qual os árabes beneficiassem de moderna tecnologia. Escolas, hospitais e bibliotecas não seriam segregacionistas e a educação seria bilingue. A concepção de uma cooperação pacífica em vez da prática da espoliação encontrou poucos adeptos. Epstein foi caluniado e ridicularizado por ter demonstrado fraqueza de ânimo…”
In: “Original Sins”, de Benjamin Beith-Hallahmi, escritor israelita. 

Quando o movimento sionista arrancou, qual era a situação de preferência relativa da Palestina como destino de refúgio dos judeus vítimas de perseguições?

“Os progroms forçaram muitos judeus a abandonar a Rússia. Sociedades tais como os “Amantes de Sion”, percursores das organizações sionistas, convenceram alguns dos assustados emigrantes a ir para a Palestina. Ali, argumentavam, os judeus iriam reconstruir os “reinos de David e Salomão”.
A maior parte dos judeus ignoraram um tal apelo e escaparam-se para a Europa e os Estados Unidos. Por voltas de 1900, só nos Estados Unidos, tinham-se estabelecido cerca de um milhão”

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