O Muro : Suas conseqüências e seus perigos.

  por Azmi Bishara (deputado Árabe do Knesset israelense).Estes que quiserem demonstrar como é fácil jogar com a vida das pessoas só precisam olhar o que se passa...

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por Azmi Bishara (deputado Árabe do Knesset israelense).Estes que quiserem demonstrar como é fácil jogar com a vida das pessoas só precisam olhar o que se passa hoje na Palestina, onde um muro segue seu caminho decidindo o destino de toda uma população. Enquanto que o muro psicológico entre o ocupante e o ocupado é perfeitamente evidente para todas crianças Palestinas, a construção do muro atual é uma marca registrada israelense que vai muito além das características do regime de apartheid da África do Sul.

O muro terá 148 km de comprimento na sua primeira etapa , e terá 8m de altura. Os trabalhos de construção começaram em 23 de julho de 2002, depois da aprovação no Conselho dos ministros após a invasão de Maio de 2001. Ele transformou a ocupação em um fato consumado absoluto. É um uma barreira absoluta, onde o impacto não será diminuido pela criação de um Estado Palestino.

Mesmo a trégua de 1949, que não permitiu o estabelecimento da paz, não foi motivo para se colocar no local um muro ou uma barreira. O muro mudará toda zona Palestina em bantustões, onde Israel poderá fechar a porta a todo momento. Especialistas em matéria de segurança consideram que o fechamento da área de Gaza constitue uma experiência securitária que poderá ser deslocada para Cisjordânia.

O muro vai desorganizar toda vida de 67 comunidades Palestinas, e terá um impacto direto sobre suas relações com suas terras agrícolas. Quinze vilarejos os quais as terras agriculturáveis ficarão do lado oeste do muro os proprietários perderão o acesso à elas. Os israelenses prometeram colocar no local “portas agrícolas”, para permitir aos agricultores Palestinos alcançar e cultivar suas terras. Mas este processo se tornará provavelmete uma experiência abominável porque o acesso à terra será objeto da permissão que os israelenses emitirão ou se recusarão emitir segundo sua vontade. A idéia de base é tornar difícil todo acesso Palestino às suas terras, e confiscá-las posteriormente.

O muro reterá 96.500 ares no lado oeste, os separando assim da Cisjordânia. Além disso, as curvas e as voltas reterão ainda 6550 a mais, enquanto que 11.400 ares serão absorvidos pela construção do próprio muro. Somando-se à isto, 18 centros populacionais Palestinos ficarão do lado oeste; mais 19 ficarão cercados nas curvas, restringindo totalmento o movimento de seus habitantes.

Contrariamente aos residentes de Jerusalém, eles não terão carteira de identidade israelense os autorizando à ir e vir livremente no interior da Linha Verde, assim como também não poderão ir à Cisjordânia. E se eles forem, não poderão voltar para casa.

Até agora, o muro desenraizou 83.000 árvores e demoliu 35.00 metros de encanamento de irrigação, e destruiu 11.400 ares de terra agrícola. Igualmente, o muro anexou à Israel 31 poços, negando assim aos Palestinos 4 milhões de metros cúbicos de água por ano. Construir o muro não é somente uma ação de segregação racial, mas também um crime de natureza política contra o povo Palestino. Ele demarca fronteiras políticas. E quando ele se cola à Linha Verde, uma nova camada do interior lhe é acrescentada, o que o protege no leste, e protege as colônias que estão no interior. Apesar de tudo, Israel prepara um muro no leste ao longo do Vale do rio Jordão. Este muro faz parte de um plano de criação de novas colônias, então estes que se regojizam do congelamento da colonização não estão informados. Se nós incluirmos as colônias que se expandem sobre seu lado oeste e leste, a implementação de um apartheid se torna totalmente evidente, mesmo se numerosos cidadãos da África do Sul consideram o apartheid mais indulgente.

Para o Likud, o muro é uma questão de segurança e não um caso político, e não porque o muro marcará a Linha Verde mas porque ele quer fronteiras tortuosas à leste, e acima de um muro que lhe será acrescentado a partir do oeste e constituindo uma camada securitária. A esquerda israelense, e mais particularmente o Partido Trabalhista, não somente defende o muro mas têm um grupo de pressão no seio do Knesset para apoiá-lo.

O cessar-fogo Palestino oferece a oportunidade de tratar esta importante questão para comunidade Palestina e para suas futuras relações com Israel, após ela ter sido negligênciada por políticos Palestinos e Árabes. Ele oferece igualmente a oportunidade de organizar protestos no interior das zonas ocupadas como no exterior destas, com o objetivo de impedir a construção do muro. É fácil dirigir a luta desta maneira, assim como é possível parar a construção do muro.

Nenhum Estado no mundo aceita o argumento de Israel para a construção de tal muro monstruoso, nenhum Estado estando em guerra ou em paz, porque nenhuma ciência política pode aceitar métodos tão brutais.

Azmi Bishara (deputado Árabe do Knesset israelense), publicado no Al Hayat de 03 de julho de 2003.

Fonte:

http://www.palestina1.com.br

 

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