
O garoto*
Georges Bourdoukanm
Jornalista e escritor
O garoto devia ter nove anos de idade no máximo. Pediu para que o inscrevessem como voluntário para lutar na Palestina Ocupada. A moça encarregada olhou para o menino, sorriu e anotou o seu nome. Ele agradeceu e saiu orgulhoso. Voltaria mais tarde.
Meia hora depois, uma mulher sofrida aproxima-se da mesa de inscrições. Lágrimas começam a escorrer de seus olhos ao encontrar ali o nome do filho. Ela explica à moça que o garoto é o último de uma família de sete irmãos. Todos haviam morrido, inclusive o pai. Os que não morreram combatendo, foram assassinados pelas bombas israelenses. Ela não queria perder o último filho.
Todos ficaram emocionados. Abraçaram e beijaram a mãe e pediram-lhe para não se preocupar. Ela se retira com uma expressão de cansaço e alívio.
À tarde, o garoto retorna dizendo estar pronto para ir combater na Palestina. A moça das inscrições, carinhosamente, tenta fazê-lo mudar de idéia. Ele é resoluto. Quer combater os inimigos que ocupam sua pátria. A moça tenta explicar que ele ainda é muito jovem.
Ele é persistente.
Ela sente que não será fácil fazê-lo mudar de idéia.
E ele ali, encarando, meio desconfiado. Quer saber o que está acontecendo.
Ela tenta demovê-lo.
Ele começa a ficar nervoso. Insiste. Ela então não tem alternativa senão contar-lhe que sua mãe ali estivera pedindo para que o proibissem de ir lutar na Palestina.
Ele disse que a moça estava mentindo.
A esta altura a discussão já tinha atraído a atenção de todos os que se encontravam nas proximidades. E todos curiosos pelo desfecho.
A moça repetiu mais uma vez que a mãe dele o proibira de ir lutar na Palestina.
Ele não acreditando.
Ela insistindo. Ele não acreditando.
Perguntei-lhe porque não acreditava que a mãe o proibira de ir lutar na Palestina Ocupada.
O garoto, que não tinha mais de nove anos respondeu:
– Porque nenhuma mãe proíbe o filho de voltar para casa.
*Extraído de meu livro Vozes do Deserto (Editora Casa Amarela)