O garoto* Georges Bourdoukanm Jornalista e escritor

O garoto* 09/06/2007 Georges Bourdoukanm Jornalista e escritor Acampamento de refugiados palestinos, em Náhr-Al-Báred, norte do Líbano, 1971. O garoto devia ter nove anos de idade no máximo....

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O garoto*

09/06/2007

Georges Bourdoukanm
Jornalista e escritor

Acampamento de refugiados palestinos, em Náhr-Al-Báred, norte do Líbano, 1971.
O garoto devia ter nove anos de idade no máximo. Pediu para que o inscrevessem como voluntário para lutar na Palestina Ocupada. A moça encarregada olhou para o menino, sorriu e anotou o seu nome. Ele agradeceu e saiu orgulhoso. Voltaria mais tarde.

Meia hora depois, uma mulher sofrida aproxima-se da mesa de inscrições. Lágrimas começam a escorrer de seus olhos ao encontrar ali o nome do filho. Ela explica à moça que o garoto é o último de uma família de sete irmãos. Todos haviam morrido, inclusive o pai. Os que não morreram combatendo, foram assassinados pelas bombas israelenses. Ela não queria perder o último filho.
Todos ficaram emocionados. Abraçaram e beijaram a mãe e pediram-lhe para não se preocupar. Ela se retira com uma expressão de cansaço e alívio.
À tarde, o garoto retorna dizendo estar pronto para ir combater na Palestina. A moça das inscrições, carinhosamente, tenta fazê-lo mudar de idéia. Ele é resoluto. Quer combater os inimigos que ocupam sua pátria. A moça tenta explicar que ele ainda é muito jovem.

Ele é persistente.

Ela sente que não será fácil fazê-lo mudar de idéia.

E ele ali, encarando, meio desconfiado. Quer saber o que está acontecendo.
Ela tenta demovê-lo.

Ele começa a ficar nervoso. Insiste. Ela então não tem alternativa senão contar-lhe que sua mãe ali estivera pedindo para que o proibissem de ir lutar na Palestina.
Ele disse que a moça estava mentindo.

A esta altura a discussão já tinha atraído a atenção de todos os que se encontravam nas proximidades. E todos curiosos pelo desfecho.

A moça repetiu mais uma vez que a mãe dele o proibira de ir lutar na Palestina.

Ele não acreditando.

Ela insistindo. Ele não acreditando.

Perguntei-lhe porque não acreditava que a mãe o proibira de ir lutar na Palestina Ocupada.
O garoto, que não tinha mais de nove anos respondeu:

         Porque nenhuma mãe proíbe o filho de voltar para casa.

*Extraído de meu livro Vozes do Deserto (Editora Casa Amarela)

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