Imagem e realidade do conflito palestino-israelita” de Norman Finkelstein. 18/08/2011

O plano sionista para Palestina – “Imagem e realidade do conflito palestino-israelita” de Norman Finkelstein. 18/08/2011   O livro do professor Norman Finkelstein1 “Imagem e realidade do conflito israelo-palestiniano”...

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O plano sionista para Palestina – “Imagem e realidade do conflito palestino-israelita” de Norman Finkelstein.

18/08/2011

 

O livro do professor Norman Finkelstein1 “Imagem e realidade do conflito israelo-palestiniano” é considerado leitura essencial para os estudantes interessados no conflito entre palestinianos e israelitas. Nesse livro, Norman Finkelstein fala sobre as raízes do conflito e os planos sionistas na Palestina.

Norman Finkelstein observa que “o movimento sionista tentou no final do século XIX criar um estado predominantemente, senão exclusivamente, judeu na Palestina” (p. 7-12). O principal obstáculo para a realização desse objetivo era a população autóctone árabe. Na véspera da colonização sionista a Palestina não era um território predominantemente judeu, mas sim muçulmano e cristão. (Capítulo II).

Os sionistas perceberam que a população árabe não iria aceitar de bom grado a expropriação e também sabiam que a única forma de implementar o sonho sionista seria realizá-lo à custa dos palestinianos. Os sionistas enfrentaram duas opções estratégicas para atingir os seus objectivos: a que Benny Morris chama de “solução Sul-Africana” – “o estabelecimento de um estado de apartheid, com uma minoria de colonos que dominam uma grande massa de população nativa”- ou a “solução da transferência” – “criar um estado judeu homogêneo ou, pelo menos, um Estado com uma esmagadora maioria judaica por meio da transferência ou expulsão de todos os árabes, ou da maioria deles” – (Benny Morris,” Revisitando o êxodo palestiniano de 1948″).

Imagem e realidade do conflito israelo-palestino

Norman Finkelstein analisa as duas opções na introdução de seu livro:
“Na Primeira Parte – A solução de transferência”, Norman Finkelstein afirma: “Na primeira parte da colonização, o movimento sionista voltou suas atenções para a “solução da transferência”. Longe de toda aquela retórica pública sobre o desejo de “viver com os árabes em condições de unidade e de respeito mútuo e converter, em colaboração com eles, a pátria comum numa terra próspera” (XII Congresso Sionista, 1921), os sionistas tiveram desde o primeiro momento a intenção de os expulsar. “A ideia da transferência acompanhou o movimento sionista desde as suas origens”, afirma Tom Segev. “O desaparecimento dos árabes encontra-se no núcleo da ideologia sionista, e foi também uma condição necessária para o seu desenvolvimento …. Com algumas poucas excepções, nenhum dos sionistas se opôs a uma transferência forçada -ou seja, uma limpeza étnica- ou discutiu a sua moralidade. “O mais importante então, foi encontrar o momento mais adequado. Refletindo sobre a escolha de expulsão, Ben Gurion escreveu em 1930: “O que é inconcebível em tempos normais é possível na revolução, e se nesse momento se perde a oportunidade e o que poderia ser realizado nesses tempos magníficos não for materializado, um mundo inteiro se haverá perdido. “(Yehoshua Porath, “O surgimento do Movimento Nacional Árabe-Palestiniano”, 1918-1929).

O objetivo de “fazer desaparecer” a população indígena árabe ficou enterrado sob uma montanha de literatura pró-sionista. O que alimentou a oposição dos palestinianos ao sionismo não foi um sentimento antissemita, no sentido de um ódio irracional contra os judeus, mas a certeza de que existia um projeto -muito real- de expulsá-los de suas terras. “O temor à expulsão e à expropriação,” conclui Morris, “viria a ser a raiz do antagonismo árabe ao sionismo.”

Norman Finkelstein continua: “Desde os incipientes movimentos de resistência nos finais do século XIX até a revolução crucial dos anos trinta, a resistência palestiniana centrou-se nos dois pilares fundamentais da colonização sionista: os colonos e as colônias judaicas. Alguns apologistas do sionismo, como a escritora Anita Shapira, contrapõem “as benignas colônias  judaicas com o recurso à força por parte dos palestinianos”. Contudo, precisamente as colônia judaicas eram a força. “Desde o princípio, o sionismo procurou empregar a força para realizar as suas aspirações nacionais”, afirma  Yosef Gorny. “Através das colônias o movimento sionista pretendia –nas palavras de Ben Gurion- “estabelecer um grande estado judaico no país”.”

Além disso, a atividade de colonização e a força armada juntam-se perfeitamente, pois os colonos sionistas procuraram “uma fusão perfeita e ideal entre o arado e a espingarda”.  Moshe Dayan mais tarde afirmou: “somos uma geração de colonizadores e sem capacetes e canos de espingardas não podemos plantar uma árvore ou construir uma casa”.

O líder ultradireitista sionista Vladimir Jabotinsky, que se inspirou nas experiências demográficas nazistas nos territórios conquistados pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial (aproximadamente 1,5 milhões de polacos e judeus foram expulsos e centenas de milhares de alemães reinstalaram-se nas suas terras), exclamou: “O mundo habituou-se à ideia das migrações em massa e quase se viciou a elas. Hitler – que tão odioso é para nós – deu a esta ideia um bom nome no mundo”.

Em 1948, o movimento sionista explorou os “tempos revolucionários” da guerra israelo-árabe – tal como fizeram os sérvios no Kosovo durante o ataque da NATO em 1999 – para expulsar a mais de 80% da população indígena (cerca de 750.000 palestinianos) e assim alcançar seu objetivo de criar um estado predominantemente, se não totalmente judeu  (ver capítulo III).

”Na Segunda Parte – A solução da África do Sul”, Finkelstein escreve que o objetivo dos sionistas era apoderarem-se da Palestina por etapas. Em 1948 conquistaram uma boa parte do território, mas esperaram até 1967 para explorar novamente “os tempos revolucionários” e através de outra guerra de conquista, apoderarem-se do resto da Palestina.

Israel enfrentou o mesmo dilema após a ocupação da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental que teve de enfrentar o movimento sionista no início.  Os israelitas queriam a terra, mas não a população.  Depois das brutais experiências demográficas dos nazis, a opinião pública internacional deixou de dar a mínima legitimidade à expulsão forçada de pessoas.  A Quarta Convenção de Genebra, ratificada em 1949, “proibia de forma inequívoca a deportação” de civis que se encontrem sob um regime de ocupação (artigos 49 e 147).  Assim, Israel agiu depois da guerra de 1967 para impor a segunda das opções acima mencionada, a do apartheid.

“O processo de paz”: Logo após a Guerra de 1967, as Nações Unidas começaram a discutir a maneira de alcançar uma paz justa e duradoura na Palestina.  Houve um amplo consenso na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança para exigir a retirada de Israel dos territórios que ocuparam na guerra de 1967.  A Resolução 242 do Conselho de Segurança incluiu este princípio básico do direito internacional no seu preâmbulo, no qual “destacou a inadmissibilidade da aquisição de territórios através da guerra”. Para reconhecer as aspirações nacionais palestinianas, foi alcançado consenso sobre a criação de um Estado palestiniano nos territórios ocupados – Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental – uma vez que Israel se retirasse para as fronteiras anteriores à guerra de 1967. A Resolução 242 também apelava aos estados árabes para reconhecer o direito de Israel de “viver em paz dentro de fronteiras seguras e reconhecidas”.

A política israelita de colônias nos Territórios Ocupados durante a última década, revela qual era o real conteúdo do processo de paz iniciado em Oslo.  Os detalhes dessa política estão descritos num exaustivo estudo do grupo B’Tselem (Centro de Informação Israelita para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados) intitulado “A Apropriação de Terras.”

Devido principalmente à aprovação de enormes subsídios por parte do governo israelita, a população de colonos judeus incrementou-se de 250.000 a 380.000 durante os anos do processo de Oslo. Note-se que a atividade dos colonos prosseguiu a um ritmo maior sob o mandato do laborista Ehud Barak que durante o governo do Likud, liderado por Netanyahu. Estas colônias, que são ilegais segundo o Direito Internacional e estão construídos também sobre uma terra ilegalmente expropriada aos palestinianos, ocupam atualmente quase metade da superfície da Cisjordânia. “Israel criou nos Territórios Ocupados um regime de separação baseado na discriminação, que aplica dois sistemas jurídicos diferentes na mesma área e baseia os direitos dos indivíduos na sua nacionalidade”, conclui o estudo de B´Tselem. “Este regime é o único do seu gênero no mundo e uma reminiscência de regimes párias do passado, tais como o Apartheid na África do Sul”.

Paradoxalmente, enquanto o apartheid já não é uma opção sustentável, a expulsão poderá voltar a sê-lo. Se Israel intenta expulsar a população palestiniana, contaria provavelmente com o apoio de poderosos sectores da população norte-americana. Alguns relevantes congressistas estadunidenses como Tom DeLay e Dick Armey, este último antigo Líder da Maioria da Câmara, patrocinaram uma resolução na qual apoiavam os intentos de anexação da “Judeia e Samaria”, quer dizer, Cisjordânia, por parte de Israel. Armey declarou explicitamente que “os palestinianos que atualmente estão vivendo em Cisjordânia deveriam ser expulsos de aí.” Quando Hillary Clinton visitou Israel alguns anos atrás, foi hóspede de Benny Elon, com quem apareceu abraçando-se. Elon é o líder do Moledet, o partido que defende de forma oficial no seu programa a expulsão dos palestinianos. Em 1989, Benyamin Netanyahu pediu ao governo israelita para explorar circunstâncias políticas favoráveis, como o massacre de Tiananmen, para levar a cabo “expulsões em grande escala” de palestinianos, uma vez que o “dano que Israel sofreria, seria relativamente pequeno.”

Os E.U.A. somente forçarão os israelitas a uma completa retirada quando os seus interesses vitais se encontrem ameaçados ou a opinião pública internacional o obrigue. Esta pressão não foi ainda sentida. No entanto, o apoio a Israel entre os estadunidenses comuns tem vindo decaindo. Uma campanha de oposição à ocupação israelense com a escala e profundidade que existiu contra o Apartheid na África do Sul está desenvolvendo-se atualmente nos campus universitários estadunidenses. Os europeus estão levando a cabo uma série de ações que vão desde o boicote aos produtos israelenses a petições a favor de um embargo de armas, enquanto milhares de valentes voluntários internacionais (incluindo muitos judeus) viajaram aos Territórios Ocupados com o objetivo de proteger aos civis palestinianos dos ataques e dar publicidade às atrocidades israelenses. Numa emotiva denúncia da atual política israelense  “que manchou de sangue a Estrela de David”, um veterano  deputado trabalhista judeu do Reino Unido lamentou que “o povo judeu… esteja simbolizado no mundo por um assassino como Ariel Sharon, um criminoso de guerra que esteve implicado no assassinato dos palestinianos em Sabra e Chatila e está agora envolvido em mais crimes contra os palestinianos.”

1 O prof. Doutor Norman Finkelstein é um eminente cientista político, judeu anti-sionista, autor de diversos livros e artigos de referência no mundo acadêmico, sendo de destacar “A Indústria do Holocausto”, “Imagem e realidade do conflito Israel-Palestina” e “A Nation on Trial: The Goldhagen Thesis and Historical Truth” (com Ruth Bettina Birn).

Link ao livro no site Amazon.com (em inglês): http://www.amazon.com/Image-Reality-Israel-Palestine-Conflict-Revised/dp/1859844421/ref=sr_1_4?s=books&ie=UTF8&qid=1313632429&sr=1-4

Autor: Revista Amanecer

Fonte: http://www.webislam.com/?idt=11900

Tradução para a língua portuguesa: sionismo.net

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