
GLÓRIA ÀQUILO QUE NÃO CHEGOU
Mahmud Darwish
(FRAGMENTOS)
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Aqui está o casamento ininterrupto
Numa praça ilimitada
Numa noite imensa
É o casamento palestino
O amante só chega à sua amada
Morto ou errante
Frente a meus olhos
O sangue deles odeia o dia seguinte
Meu corpo é uma rosa na morte deles
Eu murchei no dia anterior às balas
Eu floresci no dia seguinte ao meu assassinato
Juntei toda aminha voz, para ficar mais calmo
Do que o sangue
Que cobre meu sangue
Frente a meus olhos
O sangue deles
Odeia as cidades mais próximas
Como se seus ferrimentos fossem os navios do retorno
E só eles não pudessem retornar
Frente a mim
O sangue deles
É como se minha terra estivesse lá, frente a mim
E eu não conseguisse vê-la,
Os caminhos de Jafa
( e eu nada enxergo)
os telhados de haifa
(e eu não os vejo)
Parece que todas as janelas da minha terra
Sumiram na carne
Só eles enxergam
O sangue amadureceu neles
E tirou-lhes vinte anos
Agora, a amada toma sua forma futura
E o lleva para dentro dela
Na minha frente, o sangue deles
E eu não vejo nada
Parece que todas as ruas da minha cidade
Sumiram na carne
Só eles enxergam
Porque se libertaram dos espelhos
E voam por cima dos telhados antigos
Como andorinhas, como aluz
E se libertam
Glória a essa coisa obscura
Glória a essa coisa que não vem
Ela rasgou os amuletos
Sua caminhada é o começo da história escrita
– As árvores florescem
Nas minha correntes
Eu compartilho de suas visões
– Os portos aparecem
Nas minhas fronteiras
O sonho é sempre mais verdadeiro
Não há diferença entre o sonho e a pátria que vive
atrás deles
O sonho é sempre mais verdadeiro
Nenhuma diferença entre o sonho e o corpo escondido no
clarão
O sonho é sempre mais real
O objeto é maior que seus braços
O mar é a etapa que está mais longe
Mesmo assim tentaram atravessá-lo
As estrelas estão mais perto que suas casas
Mesmo assim tentaram voltar
A terra é mais estreita do que imaginaram
Mesmo assim tentaram aonhar
Glória a essa coisa obscura
Glória a essa coisa que não vem
Ela rasgou os amuletos
Sua caminhada é o começo da história escrita
Eu compartilho de suas visões
Aqui está o casamento ininterrupto
Numa praça ilimitada
Numa noite imensa
É o casamento palestino
O amante só chega à sua amada
Morto ou errante
Doaram seus túmulos
E prosseguiram a procissão fúnebre
E todo o mundo árabe será pequeno demais
Para a procissão do retorno
Nossos olhos verão a nossa terra
Porque eles reproduzem
Uma visão, e não só uma causa
Nossos olhos te verão, ó terra nossa
Porque demos refúgio em nossos peitos
Aos pássaros da Galiléia
E à honra de Maria Madalena
Nossos olhos te verão, ó terra nossa
Porque os dedos dos mártires nos levam a Safad
Como uma oração ou uma identidade
O que você quer de nós agora?
Que você quer mais?
Tome-nos sem nenhuma retribuição
E semei-nos nas hortas sedentes
Porque é possível que o verde tenha sumido de lá
A coisa, ou eles?
O cadáver de um guarda nos avisou da decadência
E essa era a palavra de ordem, isso nos disseram
Uma nova era começou, desde um sonho
Depois de ter mordido o pó de derrota
(Assim a superaram)
Tudo termina neste casamento
Uma etapa inteira chega ao fim
Aqui está o casamento palestino
O amante só chega à sua amada
Morto ou errante
Mahmud Darwish