Conselho de Segurança debateu a contra-gosto crimes de guerra

O debate realizado ontem no Conselho de Segurança da ONU sobre o relatório Goldstone, visto por Joaquim Utset da EFE. O debate aprofundou as diferenças entre israelitas e...

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O debate realizado ontem no Conselho de Segurança da ONU sobre o relatório Goldstone, visto por Joaquim Utset da EFE.

O debate aprofundou as diferenças entre israelitas e palestinos, o que complica ainda mais a retomada do processo de paz entre as duas partes.

Israel sustenta que este polémico documento é um impedimento a sua vontade de dialogar com os palestinos; estes, por sua vez, insistem em que alcançar a paz passa por fazer justiça às vítimas civis da ofensiva militar israelita contra a Faixa de Gaza em Dezembro e Janeiro passados.

“O relatório Goldstone é um obstáculo para o processo de paz. Não podemos retomá-lo enquanto continuarem nos acusando de coisas tão perturbadoras como crimes de guerra”, afirmou na saída da reunião a embaixadora de Israel na ONU, Gabriela Shalev.

Para a representante israelita, o relatório é “tendencioso e parcial” por equiparar as acções do movimento islamita palestino Hamas com o que considerou como o exercício por parte de seu país “do direito à defesa própria”.

Por isso, Shalev ressaltou que não fez referência no seu discurso no Conselho de Segurança ao documento porque não faz parte da agenda da reunião desse órgão, oficialmente intitulada “A Situação no Oriente Médio, Incluindo a Questão Palestina”.

Isso não evitou que quase todos os países que tomaram a palavra no debate fizessem referência, mesmo que superficialmente, ao documento elaborado por uma Missão de Inquérito nomeada pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU (CDH) dirigida pelo jurista sul-africano Richard Goldstone. [Judeu e sionista]

O relatório denuncia à comissão crimes de guerra e contra a humanidade durante o conflito em Gaza e pede para que o Conselho de Segurança obrigue as duas partes – Israel e o Hamas – a investigar os factos sob a ameaça de transferir o caso ao Tribunal Criminal Internacional.

O representante palestino na ONU, Riad Mansur, disse que é uma “falácia” considerar o trabalho da Missão de Inquérito do CHD da ONU como um obstáculo, ao mesmo tempo em que assegurou que “defender o direito internacional e o direito humanitário fortalece a missão de encurralar os terroristas”.

“O obstáculo não é o relatório Goldstone, é o comportamento” israelita, acrescentou Mansur.

Este é exactamente o panorama que Washington queria evitar quando há duas semanas pressionou os palestinos a pedirem ao CDH para adiar a sua votação sobre o relatório.

Os países árabes acataram o pedido americano, mas a posteriori a rejeição da opinião pública dos seus países obrigou-os a mudar diametralmente de posição.

No seu discurso ao Conselho de Segurança, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Riad al-Malki, atribuiu a “um mau funcionamento” a decisão do CHD de adiar até Março a avaliação do relatório Goldstone.

Malki disse esperar que esse organismo decida na sua reunião de amanhã endereçar as suas recomendações a todas as instâncias da ONU, em referência ao Conselho de Segurança.

“O mundo contemplou, por tempo demais, como Israel actua com impunidade, um comportamento que se deve ao facto de que nunca ter sido punido”, afirmou Malki, que acusou o Exército israelita de ter “exibido um desprezo cruel pela vida humana” nos combates com o Hamas.

O debate de hoje foi fruto do compromisso alcançado na semana passada pelo Conselho de Segurança depois que a Líbia ter pedido uma reunião de urgência para falar sobre o relatório Goldstone.

Os 15 membros do organismo não acataram a solicitação líbia, mas decidiram antecipar do dia 20 para ontem, 14, o seu encontro mensal sobre o Médio Oriente.

A grande maioria dos países que discursou no debate exortou as duas partes, mas particularmente Israel, a investigar as denúncias de violações dos direitos humanos.

Os representantes dessas nações expressaram também que o relatório Goldstone deve ser debatido primeiramente no CDH, o órgão que encomendou sua elaboração.

Ao mesmo tempo, as delegações de Estados Unidos e de outros países ocidentais manifestaram as suas dúvidas sobre a imparcialidade do documento, embora tenham considerado que as suas denúncias são “graves”.
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