
14/04/2007
Não existe nenhuma dúvida de que as guerras dão nascimento em geral à um problema de refugiados, e os acordos que colocam fim a estas guerras englobam evidentemente uma solução para o problema dos refugiados. Nas guerras que nós conhecemos, este problema é secundário, à exceção destes dos refugiados palestinos.
Sessenta anos após seu aparecimento, e a política imutável do Estado de Israel, e num quadro de aprofundamento manifesto da agressão colonial e militar israelense, e à véspera da próxima Cúpula Árabe de Riad, no final deste mês, e considerando que a Cúpula vá confirmar “a iniciativa de paz árabe”, e segundo o método de colocar “ a carroça na frente dos bois” , e fazer pressão em vista de uma chantagem, a ministra das relações exteriores, Tsivi Livni retomou, em uma declaração ao al-Ayyam. Na quinta-feira última, a confirmação da atitude imutável de Israel em relação à questão dos refugiados e das fronteiras, dizendo : “É impossível para Israel aceitar a iniciativa de paz árabe dentro de sua formulação atual”, explicando que ela espera que esta cúpula adote uma versão modificada desta iniciativa, sobretudo após a modificação do artigo que trata de encontrar uma solução justa e aceita, a partir da resolução internacional 194 sobre a questão dos refugiados palestinos, e a modificação do artigo que exige que Israel se retire às fronteiras de 04 de junho de 1967. Livni acrescenta :”a proposta israelense se apoia sobre dois Estados, Israel como pátria nacional para os judeus e um Estado palestino que será a solução nacional para os refugiados palestinos”.
Mas Livni não trouxe nada de novo, ela confirma somente a visão dominante dentro da política israelense, em relação aos refugiados palestinos e às fronteiras. Ela não faz senão relembrar as declarações dos primeiros dirigentes do Estado de Israel.
Na sua obra “A terra na lembrança palestina”, o autor Abdel Fattah Qalqili relata que “Joseph Weitz (diretor do Fundo Nacional Judeu) havia relatado nas suas memórias que após o mês de agosto de 1948, houve um acordo para que Israel lançasse uma campanha de propaganda para convencer a opinião pública internaciona de que “não há mais lugar onde os Palestinos possam retornar, e que eles não têm senão uma única chance para salvar seus bens, a de lhes vender e se beneficiarem de seus preços, a fim de se instalarem em outra parte”.
Ele relata também que Ben Gurion disse nas suas memórias que Aba Ebban lhe aconselhou, no dia 14 de julho de 1948, de não correr atrás da paz, de se contentar com acordos de trégua, explicando que “porque se nós corrermos atrás da paz, os Árabes nos exigirão o preço, e o preço será delimitar as fronteiras e o retorno dos refugiados ou os dois ao mesmo tempo”.
A fixação da visão dos israelenses em relação a questão dos refugiados Palestinos não se limita à posições teóricas, mas ela se concretiza no terreno. Não se limitando à recusar o retorno destes que foram expulsos e deslocados for a das fronteiras da Palestina, mas se manifesta na maneira de tratar estes que foram expulsos em 1948, de um vilarejo à outro, estes que tem um passaporte israelense. Mesmos estes últimos, e apesar das decisões dos tribunais israelenses pedindo suas reapropriações de certas de suas terras (após 1953), estas decisões não foram aplicadas, eles continuam refugiados, mesmo se alguns deles (nos vilarejos de Iqrit e Bir’im, por exemplo) tiveram autorização para enterrar seus mortos nos cemitérios de seus vilarejos e de rezarem nas suas igrejas.
Além disso, o historiador Benni Morris considera na sua obra “Cristalização” que o vilarejo de Hawaj, no norte do Naqab, perto do kibutz Dorot, é o símbolo da política sinonista em relação à terra dos Palestinos. Ele obteve informações precisas nos documentos militares da época contando que os habitantes deste vilarejo colaboraram com os colonos do kibutz em 1941, lhes trazendo com o que se alimentar e se vestir à todos os judeus que vinham da Europa. Em 1946, eles ofereceram abrigo aos judeus perseguidos pelas autoridades inglesas, assim como traziam alimentos aos judeus aprisionados. Mas as forças israelenses armadas expulsaram a população do vilarejo em maio de 1948 para um local denominado Dimra.
Em setembro do mesmo ano, os habitantes do vilarejo apresentaram as autoridades israelenses um pedido de autorização de seu retorno ao vilarejo, este pedido foi enviado para o departamento do Oriente Médio à direção militar, com uma nota de Y. Shimoni, presidente do departamento, dizendo : “é importante que os habitantes do vilarejo de Hawaj sejam tratados de uma maneira específica, porque eles foram “partidários” e “colaboradores” com os judeus, como também foram expulsos pela força militar, e não fugiram voluntáriamente, eles continuam à viver perto de seu vilarejo”. Em 26 de setembro de 1948, o ministro das minorias, B.Shatrit responde à esta carta, prevenindo contra “uma tal medida que pode se generalizar, abrindo o caminho aos Palestinos que poderão retornar à sua pátria de origem no interior das fronteiras de Israel”.
Até o presente, os habitantes do vilarejo de Hawaj não retornaram ao seu vilarejo.
As declarações da ministra israelense não trazem nenhuma novidade, senão que ela fez explodir uma bomba na cara da próxima Cúpula Árabe. Seu apelo à que se aceite a visão securitária de Israel para se chegar à um Acordo é um desafio, e é o mesmo que foi proposto ao mártir Yasser Arafat durante as negociações de Camp David em 2000, e que ele recusou e pelo qual ele pagou com a vida. A questão que se coloca então é : como os dirigentes árabes vão eles agir na sua próxima cúpula com este desafio e esta chantagem.
Relativo ao ponto central e a estratégia da questão proposta, a cúpula árabe deve responder ao desafio com clareza e sem hesitação e não deixar o Povo Palestino sózinho no confronto, isto quer dizer que os dirigentes dos regimes árabes não devem repetir o cenário de abandono do desaparecido presidente Yasser Arafat, sem apio real e verdadeiro, mesmo tendo ele tenha aceito suas iniciativas. O desafio colocado é pesado, tão pesado que o Povo Palestino não pode aguentar, os quais tem os meios limitados, no momento em que estão cercados, de ponta à ponta, mesmo ao nível do pão diário, no momento em que ele enfrenta, dentro desta fase cem por cento americana, à todas formas de agressão militar selvagem, a última que se passou e se passa em Jenin, Al-Khalil, em Nablus com a operação “inverno quente”, etc…, o que anuncia uma primavera ainda mais quente em Gaza, sem esquecer as agressões e as escavações sob e ao redor da mesquita de Al-Aqsa, e os planos de construção colonial na região de Atarot, assim como os elos de judaização da cidade de Al-Quds, se seu cerco e isolamento da cidade de Ramallah.
No cenário das respostas da próxima cúpula árabe, que será uma cúpula importante, ainda mais que deverá enfrentar dossiers importantes como o do Iraque, do Líbano até o Sudão, é necessário colocar aos oficiais árabes que decidem, que a bomba da ministra israelense é pesada, ela visa arrastar a posição árabe pra o caminho das orientações americana-israelense, para realizar um acordo político do conflito, lhes empurrar à fazerem concessões estratégicas gratuitas e rápidas, e assim, despojar os Palestinos da legitimidade das referências árabes e internacionais de seus Direitos.
Livni se dirigiu à cúpula árabe antes de sua reunião, e na realidade, com a boca de Ben Gurion e não só com a dela, como fiel descendente da estratégia que ele criou para tratar das questões dos refugiados e das fronteiras.
Nós concluímos por uma questão fundamental, que o escritor Abdel Fattah Qalqili colocou no seu livro : “é certo que os refugiados Palestinos foram expulsos, diretamente ou indiretamente, por causa da guerra árabe-sionista em 1948. Mas após a questão Palestina ter se formado, as causas se entralaçaram às conseqüencias de maneira que que nos perguntamos : será que o problema dos refugiados é a causa da questão Palestina ou será que é a conseqüencia ? Então, será que a resolução do problema dos refugiados leva à resolução do problema Palestino ou será o contrário ? ´sta complicação se desenvolveu, da formulação exata dizendo que “ a solução do problema dos refugiados é a chave da paz, e que ˜ão existe paz sem ela”, com a ilusão “que a paz é a solução para resolver o problema dos refugiados, e que ñao existe solução para este problema sem a paz.
Por nosso lado, nós respondemos à Ben Gurion (perdão, Livni) que uma paz sem a solução da questão dos refugiados não é senão uma trégua temporária, mesmo sendo ela longa.
fonte : palestina-solidarite.org
tradução : Elaine Guevara