
10/jul/2015, 7h44min
Ativistas gaúchos lançam Frente de Solidariedade ao Povo Palestino
Na ocasião, também foi exposta a arte feita por Cláudia Stella | Foto: Guilherme Santos/Sul21
Débora Fogliatto
Militantes, movimentos sociais, políticos, trabalhadores, professores e estudantes participaram, nesta quinta-feira (9), do lançamento da Frente Gaúcha de Solidariedade ao Povo Palestino. A entidade, fundada por ativistas pelos direitos humanos e contrários às violações cometidas pelo Estado de Israel, pede que a população do Rio Grande do Sul se una ao chamado “boicote, desinvestimento e sanções” (BDS). O lançamento ocorreu na sede do Sindicato dos Bancários, no Centro de Porto Alegre, a partir das 18h30.
O BDS é um movimento político global que surgiu em 2005, com a intenção de que as pessoas peçam para seus governantes romperem relações com empresas que apoiem ou estejam ligadas ao governo israelense. Defendendo que os cidadãos palestinos vivem em sistema de apartheid, eles pedem que a comunidade internacional realize um movimento parecido com o que aconteceu na África do Sul e gerou o fim do apartheid racial lá.
O advogado brasileiro-palestino Nader Baja, que nasceu no Rio Grande do Sul mas se mudou para a Palestina com apenas 5 anos, retornando ao país depois de adulto, é um dos criadores da Frente. Ele acredita que existe um interesse do povo gaúcho neste assunto, mas isso não é o suficiente. “É preciso que esse público realize uma pressão concreta nos governos para impedir qualquer interação de qualquer ordem com o governo israelense, em função da violação constante dos direitos humanos do povo palestino lá”, defende.
Maren, o advogado Paulo Torelly e o advogado Nader Baja | Foto: Guilherme Santos/Sul21
No lançamento, Malek Rashid, descendente de palestinos e representante da Federação Árabe-Palestina do Brasil, destacou que a Frente surgiu “da necessidade de enfrentamento em relação ao que ocorre lá”. “Nossa Constituição menciona o direito à autodeterminação dos povos. Essa é uma questão de direitos humanos, muito mais profunda do que o conflito político que alguns fazem parecer”, refletiu.
Os problemas na região da Palestina começaram em 1948, quando foi criado o Estado de Israel, que ocupou, além das terras previamente decididas pela ONU, também as que seriam dedicadas aos palestinos que lá viviam, causando um grande movimento de saída dos territórios que fizeram com que haja mais de 6 milhões de refugiados palestinos no mundo atualmente. A data do lançamento da Frente lembra o aniversário de um ano do maior ataque às terras palestinas perpetuados por Israel nos últimos anos: no dia 8 de julho de 2014, Israel lançou uma investida militar na Faixa de Gaza — parte dos territórios palestinos — que vitimou mais de 2 mil palestinos e deixou 100 mil desabrigados.
Em um manifesto lido no início do evento, a Frente chama atenção para o fato de as políticas israelenses serem denunciadas diversas vezes pela ONU e pelo Tribunal Internacional de Haia, que em 2004 considerou Israel culpado de violações de direitos humanos, afirmando que o mundo possui a obrigação “de não reconhecer e não compactuar com as graves violações à legislação internacional promovidas por Israel”. Para os ativistas, a decisão dá legitimidade à campanha de BDS.
Nader considera que o BDS é uma maneira criada pelos povos para criar um instrumento “pacífico, democrático, baseado no respeito aos seres humanos” e que, ao mesmo tempo, seja eficaz. “Vamos sempre estar monitorando e denunciando que nossos governos se relacionem com um Estado que viole os direitos humanos”, garantiu.
Lançamento ocorreu no SindBancários | Foto: Guilherme Santos/Sul21
A ativista Maren Montovani, da ONG Stop the Wall, que luta pelo fim do muro levantado por Israel para segregar a população do território palestino da Cisjordânia, lembra que no ano passado houve uma forte campanha gaúcha pelo cancelamento dos contratos do governo estadual com a empresa AEL Sistems, subsidiária da Elbit, uma fabricante de armas israelenses. “Percebemos, depois disso, um necessidade bastante generalizada de continuar na luta, retomar a luta. Se conseguimos derrubar esse contrato com a Elbit, muitas coisas podem ser feitas”, reflete.
Para isso, a Frente conta também com o apoio do Comitê Estudantil de Apoio à Palestina, que no início deste ano realizou uma semana contra o apartheid em universidades gaúchas. Para Maren, a urgência do momento pelo qual o povo palestino está passando reforça a necessidade do lançamento da Frente. “Se vermos o que está acontecendo na Palestina, a solidariedade é mais importante do que nunca. Essa é a primeira vez que todos juntos, publicamente, dizemos que estamos prontos para trabalhar juntos para um Rio Grande do Sul livre de apartheid israelense”, afirmou.