A Nakba: A limpeza étnica e o nascimento de Israel A Nakba: A limpeza étnica e o nascimento de Israel

A Nakba: A limpeza étnica e o nascimento de Israel A Nakba: A limpeza étnica e o nascimento de Israel 10 de Dezembro de 2007. Serviço Noticioso Um Mundo...

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A Nakba: A limpeza étnica e o nascimento de Israel

Nakba: A limpeza étnica e o nascimento de Israel
10 de Dezembro de 2007. Serviço Noticioso Um Mundo a Ganhar.

 

A regiمo da Sيria em 1916.
A sombreado, a لrea temporariamente “reservada”, segundo a correspondência entre Hussein e McMahon. Em 1915, a Grم-Bretanha reconheceu a independência لrabe fora dessa لrea. A Palestina estendia-se a partir do Egipto até uma linha que ia da costa, pouco acima de Acre, até ao rio Jordمo, bem longe dessa لrea.
(Fonte: Jeffries, Palestina – A Realidade. Reproduzido, tal como
todos os outros mapas neste artigo, da ediçمo portuguesa do livro
de Tariq Al-Khudayri, Palestina – A Saga de um Povo)

Os palestinianos chamam ao que lhes aconteceu em 1948 a Nakba – a palavra لrabe para catلstrofe. Foi perpetrada por lيderes sionistas que tencionavam formar o estado de Israel em terras palestinianas sem os palestinianos. 

Durante a Nakba, quase um milhمo de palestinianos (metade da populaçمo nessa altura) foram brutalmente afastados das suas terras, aldeias e casas, fugindo apenas com os bens que conseguiram levar. Muitos foram violados, torturados e mortos. Para garantirem que nمo haveria nenhuma razمo para os palestinianos regressarem, as suas aldeias e mesmo muitas oliveiras e laranjeiras foram tمo eficientemente arrasadas que sobram poucos restos visيveis. Quando a Nakba terminou, tinha havido 31 massacres documentados e provavelmente outros. Cerca de 531 aldeias e 11 bairros urbanos foram esvaziados dos seus habitantes.

Os antigos nomes لrabes das aldeias e ruas foram hebreizados. Mesquitas e igrejas cristمs antigas foram destruيdas. Parques temلticos, florestas de pinheiros (لrvores nمo nativas da regiمo) e colonatos israelitas foram estabelecidos sobre muitas das antigas aldeias palestinianas. Tudo isto visava eliminar qualquer vestيgio fيsico de que a terra tinha pertencido aos palestinianos e dar um objectivo à Nakba.

Quantas vezes tivemos uma discussمo sobre o drama dos palestinianos com apoiantes da existência do estado israelita e enfrentلmos o argumento de que o problema surgiu da intolerância palestiniana em relaçمo aos colonos judeus? Quantas pessoas sabem – ou admitem – que desde o inيcio o sionismo tinha planeado expulsar permanentemente o povo palestiniano da sua terra? Em muitos paيses ocidentais, a negaçمo da Nakba é tمo obrigatَria quanto a negaçمo do Holocausto é condenada. Como é que isto aconteceu?

O livro A Limpeza ةtnica da Palestina (One World Publisher, Oxford, 2006) do historiador e conferencista decano israelita Ilan Pappe da Universidade de Haifa analisa o perيodo da Nakba. A premissa é de que a Nakba nمo foi mais que um acto de limpeza étnica, normalmente considerado pelo direito internacional um crime contra a humanidade. Em apoio desta teoria, o autor esboça vلrias definiçُes de diferentes fontes actuais, entre as quais “uma zona etnicamente mista transformada num espaço étnico puro”. Ele mostra como o massacre e/ou expulsمo forçada dos arménios na Turquia, dos tutsis no Ruanda e dos croatas e bَsnios na antiga Jugoslلvia é afim ao que os sionistas fizeram aos palestinianos numa escala massiva em 1948 e ainda o estمo a fazer hoje. Pappe também delineia uma ligaçمo entre limpeza étnica e colonialismo, tal como aconteceu na América do Norte e do Sul, bem como em ءfrica e na Austrلlia.

A sua investigaçمo baseia-se em três fontes primلrias: o material recentemente divulgado (anos 90) dos arquivos militares israelitas, o diلrio de David Ben-Gurion onde estمo registados resumos de muitas das suas reuniُes, uma releitura de material de arquivo mais antigo pelo prisma do paradigma da limpeza étnica e o uso extensivo de arquivos palestinianos de histَria oral.

 

O acordo Sykes-Picot em 1916

 

 

A zona acinzentada mostra a “Palestina” reivindicada pela Organizaçمo Sionista Mundial em 1919.
(Fonte: Ruedy in Abu Lughod, A Transformaçمo da Palestina)

Pappe fornece uma breve resenha histَrica até à Nakba e alguns capيtulos no final do livro sobre a actual situaçمo dos palestinianos. O que se segue é uma descriçمo temporal muito abreviada dos acontecimentos que antecederam a Nakba. 

Os primeiros colonatos sionistas começaram em 1878, quando a Palestina, como muito do Médio Oriente, fazia parte do Império Otomano. Em 1917, com o fim da II Guerra Mundial e a derrota dos otomanos, o exército britânico marchou até à Palestina e tomou o seu controlo. Mais tarde, nesse mesmo ano, o britânico Sir Balfour emitiu a Declaraçمo de Balfour que prometia um “territَrio nacional” aos judeus em terras palestinianas, apesar de, segundo a maioria dos registos, os judeus constituيrem apenas 8% da populaçمo, ou mesmo menos segundo algumas estimativas. A Liga das Naçُes legalizou a ocupaçمo britânica ao dar-lhe um mandato para administrar a Palestina. Em 1938, começaram importantes combates entre judeus e palestinianos. As bombas da organizaçمo militar sionista Irgun mataram 119 palestinianos; as bombas palestinianas mataram oito judeus. Em 1947, a Grم-Bretanha comunicou às recém-formadas Naçُes Unidas que se retiraria da Palestina. Em Novembro, a ONU formulou o plano de divisمo da Palestina em dois estados. Em Dezembro de 1947, os sionistas iniciaram as expulsُes em massa de palestinianos. Quando os britânicos retiraram em Maio de 1948, os sionistas declararam a independência. A Nakba continuou até aos primeiros meses de 1949.

O livro de Pappe revela como o movimento sionista planeou meticulosamente, executou, mentiu, e depois negou a sua apropriaçمo da terra palestiniana e a remoçمo (pela força ou pelo terror) da sua populaçمo. Ele mostra as polيticas israelitas contra a minoria palestiniana dentro de Israel, bem como na Cisjordânia e em Gaza, no seu devido contexto histَrico, repondo a verdade sobre a conceptualizaçمo da situaçمo que os palestinianos hoje enfrentam. Pappe apenas toca brevemente no papel de Theodor Herzl, o fundador do movimento sionista no inيcio dos anos 1800, para mostrar quمo profundamente enraizado estل o conceito de “transferência” da populaçمo indيgena, a forma como o “problema demogrلfico” é visto hoje pela maioria dos israelitas como uma continuaçمo da visمo exclusivista sionista original. Um mapa de 1919 mostra claramente as intençُes sionistas de se apoderar de toda a Palestina. Os ideَlogos de Herzl declararam que havia “estrangeiros” a viver na sua terra bيblica, e por estrangeiros eles queriam dizer todos os que nمo fossem judeus, embora a maioria dos judeus da Palestina tivesse partido a seguir ao perيodo romano. E mesmo hoje em dia, uma sondagem recente indicava que 68% dos judeus israelitas queriam que os cidadمos palestinianos de Israel fossem “transferidos”.

 

O plano de divisمo da Palestina (1937)

Muitas das revelaçُes do livro dizem respeito a David Ben-Gurion, um dos principais cérebros e supervisores do projecto sionista e da limpeza étnica que o implementou. A partir de meados dos anos 20, Ben-Gurion foi o ministro da defesa (ou ministro da guerra) nمo oficial do estado ainda nمo oficialmente formado e tornou-se depois o seu primeiro-ministro fundador. Ele trabalhou a nيvel internacional, bem como localmente, na organizaçمo de outros sionistas em torno dos seus métodos e objectivos. Foi em sua casa que a limpeza étnica foi inicialmente discutida com um conjunto de especialistas em segurança e “questُes لrabes” (judeus que tinham crescido na regiمo e sabiam falar لrabe) que aconselhariam os futuros governos de Israel (Pappe chama-lhe a Consultância). A sua visمo para chegar a um estado sionista era ambiciosa e estratégica. Ele pensava que apenas poderia ser conquistado pela força, mas que os sionistas teriam que esperar pelo momento histَrico oportuno para poderem lidar “militarmente” (como dizia Ben-Gurion) com a realidade demogrلfica no terreno: a presença de uma maioria populacional nativa nمo-judia. Em 1937, quando os britânicos ofereceram à comunidade judia um futuro estado (numa percentagem muito menor da terra que a ONU viria a dar-lhes em 1948), ele aceitou isso como um bom começo para a ideia que tinha formalizado. Ele tinha planos mais ambiciosos. Em 1942, Ben-Gurion declarou publicamente a reivindicaçمo sionista a toda a Palestina, mas depois achou que isso nمo era realista e que 80% seriam suficientes para um estado israelita viلvel. 

O livro fala sobre um importante projecto estratégico liderado por Ben-Gurion – o “projecto aldeias” para cartografar toda a Palestina. Através da utilizaçمo de fotografia aérea, registaram detalhes de todas as aldeias palestinianas: as suas estradas de acesso, a qualidade da terra, as fontes de لgua, as principais fontes de rendimentos, a composiçمo sociopolيtica, as afiliaçُes religiosas, os nomes dos seus muhktars(chefes tradicionais das aldeia), a relaçمo com outras aldeias, a idade de cada homem e um يndice de “hostilidade” face ao projecto sionista medido pelo seu envolvimento na revolta de 1938 contra a polيtica britânica de permitir um aumento da imigraçمo de judeus para a Palestina (incluindo os que podiam ter morto judeus).

Os envolvidos no mapeamento das aldeias perceberam que essa cada vez maior base de dados nمo era um mero exercيcio académico de geografia. Uma pessoa que participou numa dessas operaçُes de recolha de dados em 1940 recordou muitos anos depois: “Nَs tيnhamos que estudar a estrutura bلsica da aldeia لrabe. Isso queria dizer a sua estrutura e a melhor forma de a atacar… qual seria a melhor aproximaçمo à aldeia, se por cima ou por baixo. Tivemos que treinar os nossos ‘arabistas’ (orientalistas que operavam uma cadeia de colaboradores) sobre a melhor forma de trabalhar com informadores.”

O livro descreve outra preocupaçمo de Ben-Gurion e da Consultância – o “equilيbrio demogrلfico” entre judeus e لrabes na Palestina. Sempre que havia uma maioria palestiniana a viver numa zona isso era considerado um desastre. A polيtica pْblica que foi adoptada foi a de promover uma imigraçمo judia generalizada. Mas os judeus, que se estavam a mudar para a Palestina desde os anos 20, preferiam viver nas zonas mais urbanas que eram habitadas em igual nْmero por judeus e palestinianos, enquanto as zonas rurais eram esmagadoramente habitadas e cultivadas por palestinianos. Os sionistas perceberam que a imigraçمo nمo iria contrabalançar a maioria palestiniana e que seria necessلria a utilizaçمo de outros meios. Jل em 1937, Ben-Gurion tinha falado da sua cabala de que a “realidade de uma maioria palestiniana compeliria os colonos judeus a usar a força para provocarem o ‘sonho’ – de uma Palestina puramente judia”. “Temos que enfrentar esta nova realidade com toda a sua severidade e distinçمo. Este equilيbrio demogrلfico pُe em causa a nossa capacidade para mantermos a soberania judia.” “Eles podem seja presos em massa ou expulsos; é melhor expulsل-los.”

 

O Plano de Partiçمo da Assembleia Geral da ONU (1947)

Quando os britânicos decidiram partir em 1947, a questمo da Palestina foi transferida para a ONU que, tal como os britânicos, também aceitou as reivindicaçُes sionistas sobre a Palestina e que a partiçمo da Palestina era a melhor forma de resolver a questمo. Mesmo que se aceite a lَgica sionista, uma partiçمo segundo a populaçمo relativa teria destinado menos de 10% da terra para um estado judeu. Mas, apَs considerلveis negociaçُes, a Resoluçمo 181 da ONU sobre a Partiçمo, de Novembro de 1947, destinou aos sionistas 56% da Palestina. Embora Jerusalém, por causa do seu significado religioso para o Judaيsmo, o Cristianismo e o Islمo, tenha sido mantida uma cidade internacional, muitas das terras mais férteis foram incluيdas no lado sionista. Embora novamente desiludido, Ben-Gurion apreciou o reconhecimento internacional do estado judeu, ao mesmo tempo que ignorava a parte que estipulava quanto e que territَrio. Ele declarou que as fronteiras de Israel “seriam decididas pela força e nمo pela resoluçمo de partiçمo”. Ben-Gurion habilmente evitou a pouca oposiçمo mundial que havia aos seus esquemas. Embora os sionistas tenham proclamado publicamente que apoiavam a Resoluçمo, no paيs começaram a implementar os seus prَprios planos. Este ignorar das negociaçُes “antes de a tinta chegar sequer a secar” tornou-se numa caracterيstica das subsequentes e das actuais negociaçُes em que Israel tem participado. 

Pappe relata como os lيderes لrabes se opuseram à partiçمo da Palestina e boicotaram essas negociaçُes da ONU. Eles recusaram-se a participar na base de que uma divisمo da sua terra com uma comunidade de colonos (que até aي era um terço da populaçمo, possuindo apenas 6% da terra e que hل muito tinha proclamado que queria desarabizar a Palestina) era ilegal e injusto. A Resoluçمo 181 criou uma imensa ansiedade para os palestinianos. Eles pressentiam o confronto iminente com os sionistas. O massacre começou em Dezembro de 1947, mesmo antes de os britânicos terem abandonado a Palestina.

Pappe detalha a combinaçمo entre um planeamento meticuloso com a permissمo de iniciativas “nمo autorizadas” dos grupos militares mais terroristas, como a Irgun, o bando Dura e o Palmach (unidades especiais de comandos que abriram caminho ao estabelecimento de colonatos judeus). Com um grupo de pessoal militar e civil que incluيam algumas personalidades famosas como Moshe Dayan (um chefe militar que foi chefe do exército durante a crise do Suez em 1956 e ministro da defesa durante o perيodo da Guerra dos Seis Dias em 1967) e Yitshak Rabin (um general e duas vezes primeiro-ministro, assassinado em 1995), Ben-Gurion estabeleceu e supervisionou os diferentes planos de preparaçمo das forças militares da comunidade judia para uma ofensiva contra os palestinianos. O Plano C (uma versمo revista dos Planos A e B) revelava as acçُes a serem desenvolvidas: matar a liderança polيtica palestiniana e os que a apoiavam financeiramente, matar os palestinianos que actuaram contra judeus, matar oficiais e funcionلrios e atacar as aldeias que pareciam mais militantes e que poderiam resistir a futuros ataques do exército israelita e danificar as fontes de sustento palestiniano. Depois, o Plano Dalet (ou Plano D) foi traçado, um esboço para a expulsمo sistemلtica e total dos palestinianos da sua pلtria. O Plano D descrevia as operaçُes da seguinte forma: “destruir aldeias (ateando-lhes fogo, explodindo-as e enterrando minas nos seus escombros) e sobretudo os centros populacionais que sejam difيceis de controlar de uma forma constante; ou montar operaçُes combinadas de controlo segundo as seguintes directrizes: envolver as aldeias; proceder a uma busca dentro delas. Em caso de resistência, as forças armadas deviam ser eliminadas e a populaçمo expulsa das fronteiras do estado.”

 

Limites propostos para a cidade de Jerusalém pela comissمo ad hoc sobre a questمo palestiniana

No decurso da execuçمo do Plano D, os lيderes sionistas nمo estavam muito preocupados com a resistência por parte dos palestinianos ou de outros لrabes que pudessem vir em sua defesa, porque a oposiçمo dos estados لrabes era pouco empenhada e os seus soldados mal treinados e equipados. 

Os lيderes sionistas falavam publicamente na possibilidade de um “segundo Holocausto”, desta vez às mمos dos لrabes, mas em privado estavam plenamente conscientes de que a retَrica de guerra dos estados لrabes nمo correspondia a uma preparaçمo séria no terreno. Frequentemente, os titubeantes lيderes militares dos estados لrabes foram ignorados por alguns soldados لrabes que tomaram a iniciativa e lutaram corajosamente para defenderem os palestinianos. O principal medo da liderança sionista era o exército britânico. Mas, embora ainda permanecesse na Palestina, o exército britânico raramente interveio contra os massacres, mesmo quando a populaçمo لrabe local suplicava que o fizesse.

As expulsُes começaram em Dezembro de 1947 nas aldeias e nas principais cidades. O texto que se segue é uma descriçمo condensada do livro de Pappe sobre o que aconteceu em Haifa à vista dos britânicos. Na manhم seguinte à aprovaçمo da resoluçمo da ONU, o Hagana (o principal grupo militar que se viria a tornar no exército israelita) e a Irgun (uma cisمo precoce do Hagana, liderada pelo futuro primeiro-ministro Menachem Begin, que depois também se tornou parte do exército) desencadearam uma campanha de terror entre os 75 000 residentes palestinianos de Haifa. Colonos judeus que tinham chegado nos anos 20 e vivido nas colinas ao redor da cidade participaram nesses ataques ao lado das unidades militares sionistas.

 

Plano de Partiçمo da ONU – 1947
e Linhas do Armistيcio da ONU – 1949

Foram usadas vلrias tلcticas. Bombardeamentos e disparos frequentes de lugares escondidos foram dirigidos contra a populaçمo palestiniana, petrَleo misturado com combustيvel foi vertido nas estradas e ateado, barris cheios de explosivos foram feitos rolar até às zonas palestinianas. Quando os palestinianos apavorados saيam para apagar os fogos, eram atingidos com disparos de metralhadora. Judeus disfarçados de palestinianos levaram carros cheios de explosivos para serem reparados em garagens palestinianas e fizeram-nos detonar. Numa refinaria em Haifa, judeus e لrabes trabalhavam lado a lado e tinham uma longa histَria de solidariedade na sua luta por melhores condiçُes de trabalho contra os seus patrُes britânicos. A Irgun, que se especializou em lançar bombas contra multidُes لrabes fez o mesmo nessa refinaria. Os trabalhadores palestinianos reagiram matando 39 trabalhadores judeus, uma das piores e também uma das ْltimas escaramuças de retaliaçمo nesse perيodo. Depois, as unidades do Hagana dirigiram-se a um dos bairros لrabes de Haifa, Wadi Rushmiyya, expulsaram as pessoas e fizeram explodir as suas casas. O exército britânico fingiu olhar para o outro lado enquanto estas atrocidades estavam a ser cometidas. Duas semanas depois, o Palmach entrou no bairro Hawassa em Haifa onde cerca de 5000 dos لrabes mais pobres viviam em péssimas condiçُes. As cabanas e a escola local foram feitas explodir, obrigando as pessoas a fugir. Pappe considera isto como o inيcio oficial da operaçمo de limpeza étnica na Palestina urbana. 

Em Março de 1948, Ben-Gurion comentou à Agência Executiva Judia: “Acho que a maior parte das massas palestinianas aceita a partiçمo como um facto consumado e nمo acredita que seja possيvel superل-la ou rejeitل-la… A maioria decisiva deles nمo nos quer combater.”

Os exércitos dos paيses لrabes nمo estavam à altura das bem equipadas unidades militares clandestinas sionistas que tinham recebido armas da Inglaterra, da Uniمo Soviética e da Checoslovلquia. Forcas لrabes irregulares emboscaram colunas israelitas mas evitaram atacar os colonatos. A Consultância decidiu que uma vingança desumana nمo era suficiente e que precisavam de mudar para actos mais drلsticos.

Ben-Gurion usou as tentativas do mundo لrabe para salvar os palestinianos para empolar o factor medo entre a comunidade judia, que ele cuidadosamente nutriu até ao ponto de eliminar qualquer oposiçمo que essas tلcticas pudessem gerar. A “segurança” do estado judeu (nessa altura como ainda hoje) tornou-se no temor anulador que permitiu que muitos israelitas, bem como gente de fora do paيs, virassem as costas ao que a liderança sionista estava a fazer, aquilo em que consistia o seu plano.

 

Territَrios ocupados por Israel desde Junho de 1967. Os territَrios actualmente ocupados e administrados por Israel incluem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, cujas fronteiras foram definidas pelas linhas do armistيcio negociadas pelo Mediador da ONU em Exercيcio em 1949 e invadidas em 1967. Durante décadas, incluيram também os Montes Golم, a norte, ocupados à Sيria.

Até Março de 1948, a liderança sionista ainda retratava as suas actividades como vingança por actos لrabes hostis. Depois, dois meses antes de os britânicos partirem, declararam abertamente que ocupariam a terra e expulsariam a populaçمo local à força. Quando os britânicos saيram em Maio, os sionistas proclamaram o seu estado. Foram oficialmente reconhecidos pelos EUA e pela URSS. A expulsمo desumana entrou em alta velocidade e a palavra vingança jل nمo era usada para descrever o que as forças militares israelitas estavam a fazer. Ben-Gurion disse: “Cada ataque tem como objectivo acabar em ocupaçمo, destruiçمo e expulsمo”. Jل nمo havia mais necessidade de distinguir entre “inocentes” e “culpados”. Ataques preventivos e danos colaterais tornaram-se aceitلveis e necessلrios. 

Deir Yassin

Numa colina a oeste de Jerusalém fica a cidade de Deir Yassin. O massacre aي é bem conhecido em todo o mundo, mas vale a pena mencionar aqui como ele reflectiu a natureza sistemلtica do Plano D aplicado a centenas de aldeias em toda a Palestina. Pappe descreve como, a 9 de Abril de 1948, os soldados judeus irromperam na aldeia e atingiram as casas com disparos de metralhadora e mataram muita gente. “Os aldeمos que restaram foram entمo agrupados num lugar e assassinados a sangue-frio, os seus corpos foram abusados enquanto vلrias mulheres foram violadas e depois mortas.

Fahim Zaydan, que nessa altura tinha doze anos, recordou como viu a sua famيlia ser assassinada à frente dos seus olhos: “Eles levaram-nos um apَs o outro; abateram um velho e quando uma das suas filhas chorou, também foi abatida. Entمo chamaram o meu irmمo Muhammad e abateram-no à nossa frente, e quando a minha mمe gritou, curvando-se para ele – levando a minha pequena irmم Hudra nas suas mمos, ainda amamentando-a – eles também a abateram.”

“O prَprio Zaydan também foi atingido, quando estava de pé numa fila de crianças que os soldados judeus tinham formado contra uma parede que eles depois encheram de balas ‘apenas por diversمo’, antes de partirem. Ele teve sorte em sobreviver apesar das suas feridas.”

Quando as aldeias eram invadidas e destruيdas e os seus habitantes reunidos, tomavam-se decisُes sobre quem viveria e quem morreria. Oficiais dos serviços de informaçُes no terreno ajudavam os oficiais militares nessa decisمo. Os oficiais dos serviços de informaçُes, com a ajuda de colaboradores locais (espiُes encobertos) apontavam para diversas pessoas ao principal oficial dos serviços de informaçُes.

Israel e os palestinianos hoje

 

Mapa com os colonatos israelitas estabelecidos nos territَrios ocupados em Junho de 1967. A sua instalaçمo é considerada ilegal à luz da lei internacional, incluindo vلrias resoluçُes do Conselho de Segurança da ONU. O mapa inclui informaçمo fornecida em 1984 pela Comissمo Especial sobre as Prلticas Israelitas, sobre colonatos em projecto ou em construçمo.

Como resultado da Nakba, hل agora quase 4,5 milhُes de palestinianos dispersos por todo o mundo, além dos 1,4 milhُes sob ocupaçمo do exército israelita na Cisjordânia e 1,3 milhُes em Gaza, uma faixa do deserto antes escassamente povoada agora cheia de sobrelotados campos e cidades de refugiados. Cerca de 1,5 milhُes de palestinianos continuam a morar na prَpria Israel como cidadمos de segunda classe. A populaçمo judia de Israel ronda cerca de 5,5 milhُes. O estado sionista inclui agora cerca de 78% da Palestina histَrica, sem contar com o ainda crescente nْmero de colonatos israelitas na Cisjordânia. Nمo hل nenhum paralelo no mundo – um estado construيdo conscientemente, desde o seu inيcio, para um povo e uma cultura, com uma base religiosa e sem uma verdadeira fronteira permanente. 

O argumento de Pappe de que a Nakba foi um acto de limpeza étnica é convincente. A geografia humana e fيsica da Palestina foram transformadas pelo conscientemente punitivo plano sionista de fazer desaparecer a histَria e a cultura da Palestina e assim negar qualquer futura reivindicaçمo que os palestinianos possam fazer sobre a sua terra. Ao longo dos anos desde a Nakba, a mلquina assassina que é o exército israelita continuou a fazer o seu trabalho sujo. Pappe lista os seguintes momentos: Kfar Qassim em Outubro de 1956, as tropas israelitas massacraram 49 aldeمos que regressavam dos seus campos; Qibya nos anos 50, Samoa nos anos 60, as aldeias da Galileia em 1976, os campos de refugiados de Sabra e Shatila no Lيbano em 1982, Kfar Qana em 1999, Wadi Ara em 2000 e o campo de refugiados de Jenin em 2002. O massacre de palestinianos por Israel nunca acabou.

Pappe termina o seu livro com a esperança de que os israelitas despertarمo da sua visمo distorcida do desejo de retribuiçمo, racismo escondido e fanatismo religioso, e que despertem para a verdade retratada nesse livro. Ele pensa que nمo aceitar o direito de regresso dos palestinianos é o mesmo que continuar a defender enclaves “brancos” tipo-apartheid e a apoiar a Fortaleza Israel. Ele diz que os palestinianos e os judeus coexistiram pacificamente antes da Nakba e que mesmo agora muitos têm fortes laços sociais que mostram que os dois povos podem viver em harmonia. Ele apela à transformaçمo de Israel num estado laico e democrلtico.

O livro de Pappe nمo foca o papel central que Israel passou a desempenhar como bastiمo dos interesses imperiais norte-americanos no Médio Oriente. Sem o apoio militar e polيtico do governo dos EUA e o inigualلvel apoio financeiro que sمo centrais para a sociedade israelita e o seu modo de vida (3 mil milhُes de dَlares por ano de ajuda governamental dos EUA, em conjunto com o financiamento privado oficialmente encorajado), Israel nمo seria o que é hoje – se é que sequer existiria. Contudo, o livro vale a pena ser lido pela sua precisمo histَrica e como recordaçمo viva da tragédia que foi a Nakba.

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